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segunda-feira, outubro 14, 2013

ADOÇÃO DE CRIANÇAS

Quero compartilhar um vídeo que gravei a pedido de quatro ex-alunas: Beatriz Zanette Formentin, Karen Pezente, Marcela Silva de Almeida e Maria Laura Fontana Zilli. Elas me procuraram dizendo que estavam desenvolvendo um trabalho para apresentar no IMG – Instituto Maximiliano Gaidzinski - onde estudam. Pediram que eu contasse a minha história sobre o processo da adoção: é um assunto um pouco complicado, repleto de muita lutas, de sonhos desfeitos, de superação das dificuldades e de esperanças.
O trabalho delas não se restringiu a uma mera entrevista. Com a colaboração de mais quatro colegas - Douglas Machado, Giovani Magagnin, Iuri Ribeiro e João Vitor Viel – visitaram a Associação Beneficente Nossa Casa. Elas relatam: “Fizemos dessa visita uma tarde muito especial e diferente para as crianças que são acolhidas lá. Durante a tarde realizamos várias brincadeiras com as crianças, além disso levamos uma cama-elástica, levamos também um lanche diferente para as crianças, aquilo pra elas foi o máximo, mas não foi só as brincadeiras e o lanche que nós levamos, além de tudo isso, nós levamos muito carinho para elas, que é o que elas mais necessitam.”
Conversaram com a coordenadora Maria do Carmo Medeiros que explicou o motivo das crianças estarem lá. A maioria delas é abrigada por sofrer violência doméstica, ou pelo fato dos pais serem dependentes químicos ou terem problemas psiquiátricos.
O grupo chegou à seguinte conclusão: “A visita à Associação não fez bem somente para as crianças, mas também para nós. Lá, nós vimos uma realidade muito diferente da nossa. Foi muito bom fazer essa visita para nós darmos mais valor ao que nós temos, e não ficarmos reclamando de tudo. Existem por aí crianças, seres humanos, que estão vivendo coisas muito tristes, e que não mereciam passar por tudo aquilo que estão passando.”
A Ong “Amor Incondicional” – grupo de apoio à adoção - montará uma tenda na Praça Nereu Ramos, no dia 9 novembro, no horário das 9h às 15 horas. Além do lançamento do grupo que está sendo reativado, haverá distribuição de panfletos explicativos, telefones para denúncias de irregularidades e de esclarecimentos à população sobre as questões que envolvem os processos de adoção.
Seria maravilhoso se não houvessem crianças para adotar! Mas, como o mundo é formado por pessoas que nem sempre tem condições econômicas e morais de cuidar dos seus filhos, quero que as adoções sejam feitas de maneira correta, justa e legal. E espero se iluminada para ser mãe do coração!

Para quem quiser conhecer um pouco sobre a minha história, assista ao vídeo...

quarta-feira, setembro 25, 2013

10º FÓRUM PARA EDUCADORES DO COLÉGIO SÃO BENTO

          Na manhã chuvosa desse sábado, centenas de educadores e pais estiveram participando do 10º Fórum para Educadores e Pais do Colégio São Bento. O evento ocorreu no auditório do colégio e abordou o tema “Desafiando o mundo moderno na formação da criança e do adolescente”. As palestras foram proferidas pelo jornalista Gilberto Dimenstein e pelo doutor em Filosofia Gabriel Perissé.
     A Secretaria de Educação de Cocal do Sul proporcionou gratuitamente a participação de 48 profissionais da rede de ensino. Segundo a coordenadora Margarete Guse: “Foram sorteadas algumas inscrições por escola e disponibilizado transporte para garantir a presença dos educadores no evento. Os assuntos dos palestrantes oferecem reflexões importantes para a Educação e essa oportunidade não poderia ser perdida.”
       Gabriel Perissé publicou mais de 20 livros relacionados a temas como leitura e criatividade, ética, formação docente e didática. Ele tratou do assunto “Educar nossos filhos: limites ou horizontes?” de uma maneira descontraída, relatando experiências próprias: “Meu pai tinha quatro filhos. Na época em que eu era criança, no subúrbio carioca, comprar uma galinha para preparar o almoço era motivo de alegria. Todos os filhos gostavam do coração da galinha. Então, meu pai botava os óculos e dividia o coração em quatro partes iguais. Isso marcou em minha vida porque na verdade o coração em questão era o do meu pai.” O educador falou ainda sobre limites (tempo, recursos, memória, inteligência, espaço) e de horizontes (liberdade, cooperação, respeito). Perissé disse que o limite em si não educa e que é melhor ensinar os filhos a terem para onde ir, a terem horizontes. O que educa não é a regra, e sim, a beleza da conversa.
     O renomado jornalista Gilberto Dimenstein, apontado pela revista Época como uma das cem pessoas mais influentes do país porque escreve muitas reportagens sobre temas sociais e colabora com diversos projetos educacionais. Ele falou sobre “A educação do futuro” e contou um pouco sobre sua convivência com Paulo Freire, lembrando um momento em que uma colega perguntou ao educador qual seria a principal característica do professor. Freire respondeu: “O professor precisa gostar de viver.”
     Dimenstein apresentou o site “Catraca livre”, idealizado por ele com a proposta de unir educação, interação e cultura. Explicou que a Catraca Livre surgiu com o objetivo de oferecer uma agenda de atrações gratuitas ou a preços populares encontradas na capital paulista. E comentou, também: “É a primeira vez que venho a Criciúma e tenho certeza de que nessa cidade há diversos lugares que podem ser melhor aproveitados pelos alunos e pela população, e tenho certeza, que eles desconhecem.”
     Ao final do evento os professores foram desafiados a refletir sobre como será a Educação do Futuro. Os participantes refletiram sobre a possibilidade das escolas não existirem mais com o mesmo formato físico da atualidade, sobre a influência das novas tecnologias e as relações entre educadores e educandos.

quarta-feira, agosto 14, 2013

MÃE, NO CÉU TEM PÃO?



Dizem que só é capaz de entender o amor incondicional de uma mãe quem tem filhos. Falam que a dor da morte só pode ser compreendida por quem perdeu um ente querido. Pessoas que sofreram preconceito racial afirmam que o “branco” não tem noção do que isso significa. Quem sai do hospital após uma crise renal coloca o seu sofrimento com algo inexplicável. Vítimas de acidentes graves falam que não há palavras para descrever o horror vivenciado. Alguns idosos dizem que só sabe o que é saudade quem passou dos cinquenta anos. Diante disso, e depois de ter sido tocada por uma parte do filme “Amor sem fronteiras”, pergunto-me: Se nunca passei fome, posso dizer que entendo a dor das pessoas que não têm o que comer ou que sobrevivem com migalhas?
Lemos reportagens sobre as misérias da África, assistimos documentários mostrando nordestinos paupérrimos comendo pedaços de cactus, encontramos pedintes maltrapilhos nas ruas, conhecemos crianças que frequentam a escola pensando no lanche servido no recreio e de vez em quando, nos lembramos da fome porque tivemos que atrasar o horário do nosso almoço.
Tempos atrás, encontrei alguns alunos rindo da tenebrosa aparência facial de um menino negro, raquítico e doente. A imagem foi recortada de uma revista e estava jogada sob uma das carteiras. Aquelas risadas não eram maldosas, eram de uma pureza inigualável. Por mais estranho que pareça, foi isso que eu senti. Após conversar com aquela turma, tive a certeza de que não me enganara.  Um deles afirmou que a viu de relance e pensou que era um macaco. E se fosse um macaco, qual era a graça? Outro quis saber se aquela foto era real. E se não fosse real, qual era o motivo do riso? Mas, a maioria deles não havia associado aquele rosto transfigurado com a falta de comida, de água, de remédio, de cuidados e de amor. E, todos que estavam naquela sala, não sabem o que é a dor da fome.
Provavelmente nossas famílias sofrem restrições financeiras, mas, sempre há algo para pôr à mesa. Acho que eu e meus alunos, hoje, temos mais opções de alimentação do que nossos pais tiveram. Lembro-me que quando eu era criança nem sempre havia café, então, fazíamos chá de erva-mate. A gente adorava “pão branco”, aquele feito apenas com farinha de trigo. No entanto, por questão de economia, minha mãe fazia “pão misturado”, no qual ela misturava farinha de milho. Mais econômico que isso, só a polenta. Era “polenta quente” – aquela que comemos assim que é retirada da panela de ferro - e leite no jantar ou sopa de feijão, que por aqui chamam de minestra. E, no café de manhã polenta sapecada na chapa do fogão à lenha com leite. Nem sempre tinha “açúcar branco” para adoçar o leite, então, usávamos o “açúcar amarelo”, ou seja, o mascavo. No domingo, havia um almoço especial com frango assado e macarronada. É claro que o preparo era mais demorado porque tudo era caseiro. De qualquer maneira, os tempos mudaram e os hábitos alimentares também.
O que importa é que temos comida na quantidade necessária em nossa casa. Ou o que realmente importa é que há pessoas passando fome? Pior ainda, há gente morrendo de fome. Mas, tudo isso nos é tão distante! Distante no sentido de não estarmos vendo a morte acontecer dessa maneira tão cruel e também porque nos sentimos impotentes para fazer algo.
Sem conseguir amarrar direito os pensamentos e sentimentos que envolvem esse texto, concluo recordando uma pergunta que uma criança desnutrida fez à mãe instante antes de sua morte: “Mãe, no céu tem pão?” Isso foi mostrado pela televisão de nosso país há quase trinta anos!

quarta-feira, junho 26, 2013

EU SEI QUE ESSA CARTA ESTÁ NO LIXO



Há uns 25 anos, uma pessoa especial na minha passagem por este mundo, leu um livro chamado “O Velho e o Mar”. De vez em quando, falava desse livro e da fascinante história de lição de vida que narrava. Em 2000 o encontrei na Biblioteca de uma das escolas em que eu trabalhava e o li. Na época, achei a história cansativa. Assisti reportagens sobre o autor – Ernest Hemingway, que se suicidou em 1961 – e sobre o livro, no Jornal Nacional. A reportagem atraiu minha atenção. Dias depois “reencontrei-me com o mesmo livro”. Resolvi lê-lo novamente, comecei depois do almoço e só parei quando terminei. Eu vi a história com outros olhos... e descobri porque “O Velho e O Mar” é conhecido no mundo todo.
        O livro conta a história de um velho e solitário pescador que tem um menino como companheiro em suas pescarias. Como não conseguem boas pescarias, os pais de Malonin – o garoto - não o deixaram mais trabalhar com o velho. Mesmo assim continuaram bons amigos. O menino tinha muita consideração pelo amigo porque foi com ele que aprendeu muitas coisas.
        O velho morava sozinho, dormia numa cama de jornais e tinha uma morada muito humilde. O seu grande valor era a dignidade e a luta.
        Depois de 84 dias sem pescar, o velho pegou seu barco e foi para o mar, dizendo que aquele seria seu dia de sorte. Durante uns quatro dias e quatro noites ele ficou no mar lutando para dominar um enorme peixe que havia caído na isca. Suas mãos doíam e a esquerda teve cãibras, comia apenas peixe, dormia com a corda que prendia o peixe enrolada ao corpo. Depois que conseguia dominar o peixe, os tubarões apareceram e o velho teve que colocar todas as forças no arpão e no remo para matá-los e espantá-los. Quando chegou à praia, só tinha a carcaça do grande peixe.
        O velho ficou só, no alto mar, com seus sonhos e pensamentos, suas fundas tristezas e ingênuas alegrias, amando com certa ternura o peixe com que travou luta até leva-lo a uma derrota leal e honesta.
        O menino encontrou o velho cansado, machucado e dormindo. Saiu chorando para buscar café e decidiu que iam pescar sempre juntos a partir de então.   
        Querida aluna, eu queria te dizer que está história mostra que nós temos que ter fé em nossa capacidade de superar os problemas e as coisas que ainda não aprendemos a fazer e  que a vida exige que façamos.
        Quando o velho termina sua luta e só lhe resta a carcaça do peixe, parece que ele não ganhou nada com isso, mas é um grande engano porque o esforço lhe deu mais experiência, dignidade e a certeza de que tem uma capacidade imensa para buscar o que deseja.
        Você acha a Matemática difícil, e aos poucos, mesmo com dificuldade, pode aprender muito. Eu te ajudo, mas depende muita de sua vontade. Porém, desconfio que é o mais complicado para ti, não são os conteúdos da minha matéria: é estar concentrada e presente.
        Desculpo-te pelas suas grosserias em sala de aula , que eu considero mais um problema de relacionamento que deves superar. Não esqueças de que se você quer o amor das outras pessoas, deve colocar muito amor no seu coração, nas suas atitudes e nas suas palavras. Não é fácil pra ninguém mudar sem ajuda e de um dia para o outro. Nem o pescador dominou o peixe no primeiro dia...
        Lute contra seus problemas e busque todos os dias de sua vida ser melhor. Eu tento fazer isso todos os minutos de minha vida e tenho melhorado bastante. Quem sabe um dia isso nos traga a felicidade plena.
        Termino desejando um abraço e muita sorte.

domingo, maio 05, 2013

SEMINÁRIO DA EDITORA SARAIVA

Foto: Luciane Idenê dos Santos Leal, Diana Morona, Ana Lúcia Pintro, Ana Cristina Alves Steinbach,
Nilbo Nogueira, Franciele Piccollo, Maria das Dores Romagna e Maria de Fátima Porto.

O Seminário da Editora Saraiva que aconteceu no dia 27 de abril de 2013, em Florianópolis, contou com a presença do renomado palestrante Nilbo Nogueira. O tema “A escola na era digital” no levou a refletir sobre a seguinte pergunta: “Por que é preciso usar as tecnologias?”
Nilbo Nogueira levou uma foto do seu tempo de estudante. Vou descrevê-la e tenho certeza que todos os leitores que tem mais de quarenta anos vão exclamar: “Eu tenho uma foto dessas!” Ele está sentado, sobre a mesa tem alguns livros empilhados, ao lado um globo e ao fundo um mapa. Por que ele mostrou essa fotografia? Para falar das diferenças entre as gerações daquela época e as de agora. Enquanto a primeira, ficava ansiosa para ver sua imagem revelada e poder mostrar aos familiares, a segunda exibe fotos instantâneas em redes sociais a todo instante.
O palestrante apresentou as diferenças entre as últimas gerações contextualizando-as com os fatos históricos em que cada uma está inserida. Contou que seu avô trabalhou na Antárctica e por isso na casa dele ninguém tomava Coca-Cola: quem fez parte da geração dos “builders” respeitava extremamente o patrão, viveu tentando construir e reconstruir o que as guerras destruíram. Os jovens de hoje não são tão submissos a essa hierarquia e nem presenciaram as tragédias e consequências cruéis do mundo em conflito!
A geração “Baby Boomers” surge no pós-guerra, quando os países retomam a paz e veem o tempo como significado de dinheiro. Trabalham muito e não sabem equilibrar o trabalho com o lazer e momentos com a família.
A geração “X” também relaciona o tempo com o dinheiro, mas começa a curtir as famílias.
A geração “Y” vive momentos de maior estabilidade econômica, nasce no momento que a internet se torna acessível, não valoriza hierarquia no trabalho, realiza multitarefas, não aceitam a cultura analógica. Não ouviram seus pais dizendo: “Ou o estudo ou a TV”: ouvem música, leem mensagens na internet, acariciam o gato com o pé, assistem televisão, fazem tudo ao mesmo tempo. Eu não acredito que eles têm tanta competência porque tudo o que fazem é superficial. No meu entendimento fazem muita coisa, mas poucas com profundidade e seriedade.
A geração “Z” surge após o ano 2000. A letra z vem de zapear que é o ato de mudar rápida e repetidamente de canal de televisão ou frequência de rádio, de forma a encontrar algo interessante para ver ou ouvir, geralmente através de um controle remoto. Etimologicamente, o zapear pode também ser demonstração de angústia, desatenção, hiperatividade, tique ou mania. Isso pode ser um alerta para a sociedade. Eles vivem em comunidades virtuais, têm acesso à banda larga, só aceitam o que tem utilidade em suas vidas (Será verdade?), também realizam multitarefas e “nasceram com um barranco no qual encostam suas costas”.
Nogueira ilustrou uma experiência pessoal para falar sobre o poder das redes sociais. Contou que deu de presente para a filha, um celular caríssimo que ela deixou cair na privada. Indignado, disse a ela: “Não é possível que alguém deixe o seu celular cair na privada. Você deve ser a única pessoa no mundo que fez isso!” A filha, então, apresentou para ele uma comunidade chamada “Meu celular na privada”. Curioso, foi ler os comentários e descobriu que discutiam sobre como tinham retirado o aparelho (se foi com a mão ou com um pauzinho), se estava sujo e se o chip não estragou.
Então, como pesquisador, resolveu verificar que tipo de comunidades existe nas redes sociais e a quantidade de membros participantes. Percebeu que muitos internautas faziam parte de comunidades como “Odeio aula + adoro ir a escola”, “Eu odeio matemática” e que poucos faziam parte de outras como “Vamos proteger o meio ambiente”. Salientou que esse é o momento de professores agirem e mobilizaram os espaços na internet que tenham bons propósitos.
Quando o palestrante apresentou a página “Diário de Classe” da aluna Isadora, de Florianópolis, o clima ficou conturbado. Uma professora explicou que ele tocou numa ferida aberta e que o papel do professor mudou muito com isso. Ele justificou que a intenção era mostrar o poder que o professor tem se souber aproveitar os recursos digitais a favor da Educação.
Nós professores não temos como fugir das mudanças provocadas pelas novas tecnologias. Talvez seja o nosso maior desafio do momento!
Concluo dizendo que o seminário foi interessante e produtivo, porém salientou o lado positivo das tecnologias. Sabemos que nem tudo são flores, há muitas pedras no caminho que dificilmente serão removidas. Nada é perfeito!

segunda-feira, abril 22, 2013

ESTREITO DO RIO URUGUAI



Quem mora na região sul de Santa Catarina pouco sabe sobre o Estreito do Rio Uruguai. As belezas da natureza, o encanto das rochas do leito do rio e a força das águas estão na memória do povo do oeste do nosso estado.
O Estreito Augusto Cezar, “localizava-se” no município gaúcho de Marcelino Ramos e na região catarinense que “passava” por Alto Bela Vista, município que se emancipou de Concórdia em 1995. Nesse trecho de 8 quilômetros, o majestoso Rio Uruguai, que em alguns pontos chega a ter 500 metros de uma margem a outra, se espreme em um canal de 8 metros de largura por 70 de profundidade. Na época de estiagem, o leito deixa à mostra uma ponte de pedra que une Santa Catarina ao Rio Grande do Sul. No famoso Passo da Formiga era possível, mas perigoso, colocar um pé em cada estado.
Eu presenciei o enterro do Estreito Augusto César quando era estudante de um colégio estadual, no município de Concórdia. Estive lá no ano de 1990. Lembro-me dos ônibus buscando todos os alunos das escolas da região para levá-los para conhecer o lugar que seria submerso pelas águas. Um projeto da “Eletrosul” nos deu a oportunidade de testemunhar a existência de uma maravilha que seria destruída pelas mãos humanas. Diziam que era preciso sacrificar a natureza em prol do progresso, que era preciso acabar com um pedaço do paraíso na terra para que a hidrelétrica de Itá nascesse. Muita gente ficou inconformada e tentou em vão lutar contra o capitalismo que mata!
Quando o nível das águas subiu, enterrou 33 escolas, 30 igrejas, 25 cemitérios, 34 clubes comunitários, 24 campos de futebol, um hospital e centenas de casas abandonadas, além de uma imensidão em pastos e plantações. Também vão ficar submersos 148 hectares de uma mata em que viviam 163 espécies de animais.
Meu marido, Celso Luiz Cousseau, tem lembranças incríveis do lugar: boas e ruins. As recordações boas são dos momentos de acampamento, reunião de amigos, exploração das cavernas e cachoeiras, banhos e pescarias. E as ruins, são de pessoas conhecidas que morreram por não perceberem os riscos que corriam ao explorar os fascínios do lugar: “Foi aí que o Pedrinho e as duas filhas morreram. Ele foi encontrado abraçado a uma delas!
Foi também nesse cantinho do mundo que meu marido viveu uma das experiências mais marcantes em sua vida. Uma vez, ele e um amigo estavam num caíco que as correntezas puxavam para um dos “trituradores”. Remaram com todas as forças enquanto ouviam os gritos desesperados do dono do restaurante que havia nas margens do rio. Até hoje, diz que foi Deus quem empurrou a pequena embarcação para fora da área de perigo. Talvez, ele seja um sobrevivente das armadilhas do estreito do Uruguai!
Como eu gostaria de poder voltar lá! Não dá mais. Posso reviver através das imagens, mas não tem a mesma emoção. Tem coisas que perdemos para sempre, mas que eternamente ficarão em nossas memórias. A vida é assim mesmo...

quarta-feira, março 20, 2013

DARCY RIBEIRO ME FAZ REFLETIR


Darcy Ribeiro marcou extremamente a sociedade brasileira pela sua luta política. Conviveu muitos anos com índios do Pantanal e da Amazônia. Foi preso e exilado por desejar melhorar a vida do povo brasileiro. Trabalhou no Senado para compor a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Infelizmente, suas ações democráticas foram interrompidas em decorrência de um câncer. 
Em sua crônica “Conselhos” encontrei um trecho com o qual me identifiquei parcialmente. Darcy Ribeiro diz para ninguém se equivocar, achando-o um sábio. Acrescenta: “Ocupado em ler – consumo livros como uma traça – e escrever – que foi a melhor forma que achei para aprender – me fechei para o mundo. Virei um erudito come-papel que não sabe dançar nem se divertir e não é capaz de fazer nada com as próprias mãos, nem a comida que come.” 
Diante de uma natureza diversificada, de inúmeros seres vivos, de espaços longínquos, de profundos segredos humanos, deparo-me com a minha condição de eterna ignorância. Percebendo as limitações do próximo, afloro em mim o desejo de saber mais, para melhor cumprir minha função de educadora. Não posso ser discípula de um mestre letrado, culto e altruísta, porque este não existe, sendo assim, me inspiro no que acredito. Fujo da comodidade para não perder tempo. Contato humano me enriquece. Sentimentos de incapacidade, frustração e dor provocam-me a reflexão. Ação, trabalho, convicções e alegria me transformam. O ato de escrever amadurece meus pensamentos, aprofundando as percepções da vida que levo.  
Encontrei na escrita uma forma de aprender. Não percebi ainda se em função disso me fechei para o mundo. Creio, porém, que se eu parar, o mundo fechará as portas para mim. 
A geração atual esconde suas potencialidades, desiludida. Desconhece o poder de criação inato a ser desenvolvido. Prefere deitar suas forças no sofá, anestesiada pela programação tendenciosa da mídia. Aguarda a resposta certa, ao invés de buscá-la e questioná-la. Não sabe duvidar com argumentos. A falsa paz química detona com as esperanças de uma nação solidária e feliz. Há indiferença quanto ao que lhe reserva o futuro. Não existe resistência à dominação dos poderosos. A poluição ambiental e mental se alastra desastrosamente! 
Não penso que a sociedade deva acabar com a ignorância presente. A infinidade dos mistérios sabe que o conhecimento humano corresponde a um átomo do Universo. Como uma pessoa comum infiltrada no meio letrado, sonho em ver aumentando o número de seres humanos que desequilibram essa diferença de poder entre os abastados e os desprivilegiados economicamente. 
Os participantes desse mundo precisam conhecer suas capacidades interiores, valorizar a cultura na qual estão inseridos, atar laços de união, dar credibilidade à educação, abandonar a comodidade e lutar pela cidadania. Alguém poderá estar ironizando esse parágrafo dizendo: “Que descoberta fantástica!” E eu, diria que realmente acho esta descoberta fantástica... 
Muitas pessoas dirão que essa é uma situação complexa e que não se sabe se há forças suficientes para iniciar consideráveis mudanças. Eu só queria que soubessem que estou tentando fazer minha parte, inclusive, escrevendo, sem qualquer pretensão que exceda  o meu desejo de refletir e de expressar meus pensamentos.