Darcy Ribeiro marcou
extremamente a sociedade brasileira pela sua luta política. Conviveu muitos
anos com índios do Pantanal e da Amazônia. Foi preso e exilado por desejar
melhorar a vida do povo brasileiro. Trabalhou no Senado para compor a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Infelizmente, suas ações democráticas
foram interrompidas em decorrência de um câncer.
Em sua crônica “Conselhos”
encontrei um trecho com o qual me identifiquei parcialmente. Darcy Ribeiro diz
para ninguém se equivocar, achando-o um sábio. Acrescenta: “Ocupado em ler –
consumo livros como uma traça – e escrever – que foi a melhor forma que achei
para aprender – me fechei para o mundo. Virei um erudito come-papel que não
sabe dançar nem se divertir e não é capaz de fazer nada com as próprias mãos,
nem a comida que come.”
Diante de uma natureza diversificada, de inúmeros seres
vivos, de espaços longínquos, de profundos segredos humanos, deparo-me com a
minha condição de eterna ignorância. Percebendo as limitações do próximo,
afloro em mim o desejo de saber mais, para melhor cumprir minha função de
educadora. Não posso ser discípula de um mestre letrado, culto e altruísta,
porque este não existe, sendo assim, me inspiro no que acredito. Fujo da
comodidade para não perder tempo. Contato humano me enriquece. Sentimentos de
incapacidade, frustração e dor provocam-me a reflexão. Ação, trabalho,
convicções e alegria me transformam. O ato de escrever amadurece meus
pensamentos, aprofundando as percepções da vida que levo.
Encontrei na escrita uma forma de
aprender. Não percebi ainda se em função disso me fechei para o mundo. Creio,
porém, que se eu parar, o mundo fechará as portas para mim.
A geração atual
esconde suas potencialidades, desiludida. Desconhece o poder de criação inato a
ser desenvolvido. Prefere deitar suas forças no sofá, anestesiada pela
programação tendenciosa da mídia. Aguarda a resposta certa, ao invés de
buscá-la e questioná-la. Não sabe duvidar com argumentos. A falsa paz química
detona com as esperanças de uma nação solidária e feliz. Há indiferença quanto
ao que lhe reserva o futuro. Não existe resistência à dominação dos poderosos.
A poluição ambiental e mental se alastra desastrosamente!
Não penso que a sociedade deva acabar com a
ignorância presente. A infinidade dos mistérios sabe que o conhecimento humano
corresponde a um átomo do Universo. Como uma pessoa comum infiltrada no meio
letrado, sonho em ver aumentando o número de seres humanos que desequilibram essa
diferença de poder entre os abastados e os desprivilegiados economicamente.
Os
participantes desse mundo precisam conhecer suas capacidades interiores,
valorizar a cultura na qual estão inseridos, atar laços de união, dar
credibilidade à educação, abandonar a comodidade e lutar pela cidadania. Alguém
poderá estar ironizando esse parágrafo dizendo: “Que descoberta fantástica!” E
eu, diria que realmente acho esta descoberta fantástica...
Muitas pessoas dirão
que essa é uma situação complexa e que não se sabe se há forças suficientes
para iniciar consideráveis mudanças. Eu só queria que soubessem que estou
tentando fazer minha parte, inclusive, escrevendo, sem qualquer pretensão que
exceda o meu desejo de refletir e de
expressar meus pensamentos.