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segunda-feira, novembro 12, 2012

IN GOD WE TRUST



            “In God we trust” significa “Em Deus nós confiamos”.
Onde você imagina que eu li essa frase? Numa camiseta que alguém comprou sem se importar em traduzir as palavras estrangeiras? Num livro de um curso de inglês? Foi na capa de um vídeo? Num trailler de um filme? Num CD religioso ou de rock? Não, não foi.
            Já que é difícil descobrir, vou facilitar, dar uma pista. Pense na frase “Deus seja louvado”. Há muita semelhança entre a fonte desta expressão tão conhecida de todos nós brasileiros com a anterior. Onde você já leu está frase? Num folheto de culto e na Bíblia? Isso. E onde mais? Não consegues lembrar? Pense bem.
Se fosses mais detalhista poderias ler “Deus seja louvado” quase todos os dias. Ela acompanha o beija-flor, a tartaruga-marinha, a garça, a arara, o mico-leão-dourado, a onça ou ... Não me lembro que bicho estamparam na nota de cem reais! Percebo que atrapalhei sua descoberta. É, todas as cédulas dizem algo que não combina muito com qualquer moeda que o Brasil já teve. O dinheiro tem estreitas relações com ganância, desonestidade, discriminação, exclusão, pobreza, tráfico, politicagem, etc. É incoerente registrar algo tão puro num papel cada vez mais imundo por causa dos interesses desumanos.
Estaremos louvando a Deus quando os moradores de rua tiverem uma casa aconchegante, as crianças não sentirem fome, os doentes receberem o tratamento correto, as famílias não precisarem temer o fantasma do desemprego, os investimentos estiverem voltados para invenção de coisas úteis, os poderes públicos forem formados por gente que trabalha pelo bem social, e enfim, as riquezas forem mais bem repartidas.
Pelas coisas que escrevi, já deixei evidente que a frase que intitula minha crônica, está impressa numa moeda dos Estados Unidos da América. Encontrei-a, perdida entre tantos centavos de Euro, que foram trazidos por um trabalhador criciumense que esteve em terras portuguesas.
Outra coisa interessante que observei, desta vez, nos centavos da moeda comum dos europeus portugueses foi a letra T destacada dentro do nome de seu país, parecendo mais com a cruz de Cristo do que com a cruz de Malta.
Penso que os americanos podem escrever que confiam em Deus, mas não deve ser recíproco. E os brasileiros não se comprometem tanto pedindo apenas que Deus seja louvado.

segunda-feira, outubro 22, 2012

PASSEIO DE ESTUDOS DA ESCOLA DEMÉTRIO BETTIOL



Alunos da EEF Demétrio Bettiol de Cocal do Sul, acompanhados pelas professoras Luciane Burigo Mathiola, Charlene Cardoso e Ana Lúcia Pintro visitaram o Grupo RBS TV de Florianópolis, nesse sábado, dia 20 de outubro. No estúdio de gravação da TV.com, participaram de uma palestra com o meteorologista, Leandro Puchalski, que apresentou os recursos que usa para fazer as previsões do tempo e respondeu aos questionamentos dos estudantes sobre furação, tornados e raios. Os estudantes tiveram a oportunidade de simular uma gravação do programa usando as câmeras do estúdio.
Os estudantes conheceram o projeto Tamar, na Barra da Lagoa, onde verificaram a importância de projetos ambientais que preservam as tartarugas marinhas, realizaram um passeio de escuna na Lagoa da Conceição e uma trilha na Praia da Galheta e visualizaram a cidade do mirante do Morro da Cruz.


      PASSEIO DE ESTUDOS DA ESCOLA DEMÉTRIO BETTIOL

            O ato de educar transcende a sala de aula. Quem nunca ouviu isso? Obviamente nossos alunos são alunos dos professores, mas também são alunos dos seus pais, dos vizinhos, dos religiosos, dos próprios amigos, dos programas de televisão, das músicas, da sociedade. O que eles aprendem de bom e de ruim é reflexo das ações da presença ou da ausência de todas essas pessoas em suas vidas.
Queremos uma Educação de qualidade, sonhamos com isso! Acreditamos que o poder público pode proporcionar recursos para garantir o sucesso dos educandos. Planejamos aulas pensando em métodos mais eficientes. Desejamos provocar mudanças comportamentais pautados no diálogo diplomático. Mas, nem sempre percebemos o quanto nossas decisões podem transformar vidas. Temos a triste tendência de chorar pelos “casos perdidos” e esquecemos-nos de buscar a vibração positiva das crianças e dos adolescentes que serão “casos de sucesso”. Essa lição é difícil de aprender.
Programamos um passeio de estudos para Florianópolis envolvendo os alunos das turmas 703 e 704 da E.E.F. Demétrio Bettiol. Um dia antes da viagem eu perguntei se estavam ansiosos e metade da turma me disse que não ia sequer dormir. Então, me questionaram: “E você, professora, não está ansiosa também?”. Respondi que em alguns momentos me sentia feliz em poder viajar com eles, e derrepente me dava conta do peso da responsabilidade e pensava que devia ter escolhido ficar em casa assistindo o Caldeirão do Huck. Mas, eu sabia que a preocupação seria esquecida quando eu os visse descobrindo outros lugares, outros mundos.
O metereologista Leandro Puchalski apresentou os recursos que usa para fazer as previsões do tempo e respondeu aos questionamentos dos estudantes sobre furacão, tornados e raios. Conversaram sobre o furacão Catarina que ocorreu em 2004, quando a maioria deles mal sabia falar. Descobriram que nos Estados Unidos os nomes dos furacões são dados em ordem alfabética e alternam entre um nome feminino e um masculino. Tentaram compreender como uma tromba d’água se forma sobre o mar. Queriam saber se o raio parte do solo ou das nuvens. Depois, tiveram a oportunidade de simular uma gravação do programa usando as câmeras do estúdio.
Alugamos a escuna Ondança que pertence ao casal holandês, Diter e Annemarie. Saímos da Lagoa da Conceição e fomos até a Barra da Lagoa. O trajeto é feito em aproximadamente 45 minutos. Apesar de ser tranqüilo exigi que os alunos colocassem o colete salva-vidas: havia prometido aos pais quando solicitei a autorização. Eu tinha consciência de que estava sob minha responsabilidade a maior riqueza de dezenove famílias.
Depois do almoço atravessamos uma ponte pênsil para fazer uma trilha até a Praia da Galheta. Pareciam formiguinhas desnorteadas andando sobre as pedras! Nem sempre os gritos são bem recebidos pelos professores, mas naquele momento eram gostosos de ouvir. Dois alunos voltaram para casa um pouco esfolados nas pernas, mas nada grave. Sempre digo que quem não tem cicatriz no corpo, não teve infância.
Permiti que molhassem os pés na água salgada, alguns ultrapassaram o limite dado, mas como o local da praia não apresentava riscos, não proibi que curtissem o mar um pouco mais. Na verdade, eu queria estar junto!
Os estudantes conheceram o projeto Tamar, na Barra da Lagoa, onde verificaram a importância de projetos ambientais que preservam as tartarugas marinhas. Conheceram os tipos de tartaruga que habitam no litoral brasileiro, demonstraram procedimentos para salvá-las, viram que o lixo é responsável pela morte de muitas delas, obtiveram informações sobre a reprodução, enfim, puderam verificar o comportamento delas em cativeiro.
Concluo dizendo que o passeio foi intenso, de muito aprendizado, de muita alegria. Só não foi perfeito porque o Guga não estava em casa, segundo o porteiro. Tenho certeza que um dia meus alunos poderão esquecer de mim, mas jamais esquecerão desse dia!

sexta-feira, outubro 12, 2012

HOMENAGEM PROFESSORES



 Tenho me encantado com o trabalho de algumas colegas. O videoclipe homenageando os professores foi montando pela professora Eliane. Parabéns a todos os professores e professoras que acreditam no poder do trabalho que executam!
Você sabe como surgiu a data em que comemoramos o Dia do Professor? Acredito que não. Afinal, poucos dentre nós, os maiores interessados, temos essa informação. Aproveitarei esse momento para apresentar a resposta dessa pergunta que acabei fazendo a mim própria somente depois de atuar duas dezenas de anos no magistério.
No dia 15 de outubro de 1827, D. Pedro I baixou um decreto imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Esse decreto abordava questões sobre a descentralização do ensino, o salário dos professores, as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os professores deveriam ser contratados. Por causa da importância desta lei, a data começou a ser comemorada - já na década de 30 - e, em 1963, virou data comemorativa através de um decreto.
O governo incentivou os estudantes brasileiros a “inventarem a sua homenagem”. Alguns receberam o recado e fizeram algo para agradecer. Outros escreveram bilhetes amorosos, atendendo o próprio coração.
Tomo a liberdade de concluir meu texto usando uma mensagem bem-humorada, de autor desconhecido, intitulada O professor está sempre errado!:  Quando... É jovem, não tem experiência. É velho, está superado. Não tem automóvel, é um coitado. Tem automóvel, chora de "barriga cheia". Fala em voz alta, vive gritando. Fala em tom normal, ninguém escuta. Não falta às aulas, é um "Caxias". Precisa faltar, é "turista". Conversa com outros professores, está "malhando" os alunos. Não conversa, é um desligado. Dá muita matéria, não tem dó dos alunos. Dá pouca matéria, não prepara os alunos. Brinca com a turma, é metido a engraçado. Não brinca com a turma, é um chato. Chama à atenção, é um grosso. Não chama à atenção, não sabe se impor. A prova é longa, não dá tempo. A prova é curta, tira as chances dos alunos. Escreve muito, não explica. Explica muito, o caderno não tem nada. Fala corretamente, ninguém entende. Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário. Exige, é rude. Elogia, é debochado. O aluno é reprovado, é perseguição. O aluno é aprovado, "deu mole". É, o professor está sempre errado mas, se você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!”
Certamente continuaremos errando e acertando. E lutando, todos os dias, para que os acertos superem os ros. Merecemos parabéns por isso!

terça-feira, setembro 25, 2012

PARQUE ECOLÓGICO DE MARACAJÁ



         Percorremos mais de um quilômetro por dentro da mata sem ver um macaco. O monitor do parque avisou que devíamos andar em silêncio, falar baixinho e evitar fazer qualquer barulho para não espantar os bichos. Respeitamos a regra, porém, o único que apareceu cedo foi o tucano e outros animais indiferentes à presença humana, como, abelhas-mirins, formigas, aranhas e borboletas.
Depois de fazer a trilha junto com o guia, fomos liberados para refazer o mesmo caminho, andando no ritmo e na direção que quiséssemos. Essa liberdade provocou correrias e quebrou o silêncio. Parecia que a mata estava infestada de papagaios!
De repente, um macaquinho curioso nos observava do alto de uma árvore. O Maycon ofereceu salgadinho para tentar aproximá-lo e conseguiu: agarrando-se a um cipó, ele foi descendo devagarinho, pegou a comida e disparou de volta para o lugar onde se sentia em segurança.
Lá estávamos nós, extasiados, rindo com cada movimento do macaquinho e aguardando uma nova aproximação. Um grito rompeu nosso encantamento: o corrimão da trilha suspensa se despregou e a Maíris caiu ao chão. Prestamos socorro, acalmando-a, dando-lhe água e ajudando-a a subir na trilha. Felizmente, não foi além de um grande susto e alguns esfolamentos nas costas e nos braços.
Continuamos nosso passeio. Logo em seguida, o Alan chegou gritando: “Professora, vem ver. Eu sei onde tem sete macacos. Tem um carregando o filhote nas costas! É pra lá, é pra lá!” Sem demora estávamos assistindo um balé no ar. Era uma loucura ver a habilidade que eles têm para pular de um galho para o outro, aparecendo e desaparecendo entre as folhas. A alegria expressa na fisionomia e nos risos da turma era inexplicável.
Vendo toda aquela beleza e pensando que os demais colegas iriam perder a oportunidade, saímos da mata para chamá-los. Tivemos uma surpresa: havia uma invasão de macacos! A festa durou umas duas horas.
Era praticamente impossível cumprir uma das regras do parque que proíbe alimentar os animais. Em todos os lugares tinha uma mãozinha oferecendo bananas, salgadinhos e bolachas. O Moisés cortou uma maça em vários pedaços e a distribuiu. Os macacos não recusavam nada, nada, nada! Um deles apareceu chupando pirulito e outro picolé... Por isso, vamos sugerir aos responsáveis pelo parque ecológico que ao invés de proibir, orientem os visitantes a levar alimentos adequados. O erro cometido é perdoável porque foi provocado por sentimentos nobres. Muitos alunos queriam apenas sentir o prazer de tocar nos animais. Era visível o carinho que demonstravam constantemente dentro de uma sintonia maravilhosa. Todos que ali estavam vivenciaram algo sublime que só compreende quem reconhece suas características comuns com o meio ambiente.
O local é público e adequado para as famílias passarem um domingo preparando um churrasco, conversando, brincando e aprendendo a amar e respeitar os recursos naturais. Ou mesmo, para as escolas organizarem piqueniques culturais que estimulem a consciência ecológica.
OBS: Essas recordações são de um passeio realizado em 2005.               

sexta-feira, setembro 07, 2012

MENSAGEM PRESENTE NOS HINOS NACIONAIS



Na manhã desse feriado que comemora a Independência do Brasil, a população de Cocal do Sul prestigiou o desfile cívico que aconteceu na Avenida Polidoro Santiago.
O palanque onde as autoridades realizaram o hasteamento das bandeiras foi montado na praça da igreja matriz. A Banda Marcial de Cocal de Sul abriu o desfile das escolas e foi acompanhada por estudantes de escolas municipais, estaduais, particulares, entidades filantrópicas e associações.
O Colégio Cocal apresentou os valores que os alunos aprendem com seus educadores. A APAE destacou seu trabalho de prevenção às doenças e à gravidez indesejada. O IMG levou para a avenida uma frase que afirma a importância de paz e educação para se ter uma grande nação. O PROERD mostrou seu trabalho para diminuir o uso de drogas e a violência. Cartazes ressaltavam a importância de doar sangue e de se construir um anel viário. Houve também desfiles de cavalos e carros antigos.

Durante a Copa muito se fala sobre a beleza do Hino Nacional brasileiro. Há quem ache estranho, um país como o Brasil - que pouco investe na educação básica e na cultura - ter um hino com letra tão bonita e música tão sofisticada. Não podemos esconder, entretanto, o desconhecimento popular do significado de diversos vocábulos nele contido. Apesar de tudo, prevalece o poder de derramar lágrimas através da sua música.

Antes dos jogos da Copa do Mundo são executados os hinos dos times competidores. No canto inferior da televisão lemos a tradução. Percebi expressões comuns na maioria dos hinos: liberdade, brilho, luta, canhões, flores. A mensagem, muitas vezes, simboliza soldados que batalham contra os inimigos externos ou conterrâneos. Esse interesse levou-me a pesquisar. Inicialmente, eu queria saber o que diz o hino da França, da Alemanha, dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Itália. Por não encontrar a tradução, mudei o rumo da minha busca para os países onde se fala a Língua Portuguesa. Perguntei-me: o que passa pela cabeça desses povos quando ouvem sua canção patriótica?
Começamos por Portugal: “ Heróis do mar, nobre povo... Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar. Às armas, às armas! Pela Pátria lutar.  Contra os canhões marchar, marchar!” A “descoberta do  Brasil” é conseqüência da competência portuguesa na arte de navegar e construir embarcações. Mas, porque esse teor fortemente bélico numa canção?
O Timor-Leste tornou-se independente de Portugal em 1975 e libertou-se do domínio da Indonésia somente em 2002. Ainda hoje, a letra do seu hino expressa seus sentimentos recentes: Pátria, Pátria, Timor-Leste, nossa Nação. Glória ao povo e aos heróis da nossa libertação. Vencemos o colonialismo, gritamos: Abaixo o imperialismo. Terra livre, povo livre. Não, não, não à exploração. Avante unidos firmes e decididos.” O governo brasileiro enviou muitos educadores brasileiros para colaborar com o Ministério da Educação desse povo.
Moçambique também considera sua pátria bela, quer liberdade, tem um sol que sempre brilhará  e “pedra a pedra” com uma “força única de milhões de braços” constrói um novo dia. Eles prometem:  Flores brotando do chão do teu suor. Pelos montes, pelos rios, pelo mar. Nós juramos por ti, oh Moçambique. Nenhum tirano irá nos escravizar.
Cabo Verde apresenta lindamente: “Canta, meu irmão. Que a liberdade é hino. E o homem a certeza. Com dignidade, enterra a semente. No pó da ilha nua. No despenhadeiro da vida. A esperança é do tamanho do mar.”
O que será que aconteceu num certo quatro de fevereiro na Angola? Penso que não foi um dia tão fácil como o nosso sete de setembro.  Ó Pátria, nunca mais esqueceremos. Os heróis do quatro de Fevereiro. Ó Pátria, nós saudamos os teus filhos. Tombados pela nossa Independência. Honramos o passado e a nossa História. Construindo no Trabalho o Homem novo.”
Açores canta : “Para a frente! Em comunhão, pela nossa autonomia. Liberdade, justiça e razão estão acesas no alto clarão da bandeira que nos guia.” Florianópolis recebeu muitos açorianos, cujos descendentes vêem sua liberdade tolhida pela violência, assistem a corrupção afronta os desejos de justiça e que grita pela razão que deve estar presente nos animais ditos racionais.
Cada povo luta constantemente para que a sua História seja um exemplo. Seja chorando, morrendo, sofrendo, amando ou cantando.

sábado, agosto 25, 2012

CULMINÂNCIA DOS PROJETOS DA EDUCAÇÃO


             A Secretaria de Educação de Cocal do Sul tem incentivado os professores a apresentarem seus projetos na “culminância”. Quando ouvi essa palavra pela primeira vez, achei um pouco esquisita. Mas, já a associei com “cume” que significa o ponto mais alto de um monte. Então, foi fácil relacioná-la à Educação: culminância é o momento de apresentação ou a entrega de um projeto desenvolvido para garantir aos alunos aprendizagem e que se espera que tenha sido concluído com sucesso, que tenha permitido aos alunos partir de um estágio menor de conhecimento para outro maior.
            A intenção da Secretaria de Educação era que os professores da mesma disciplina da rede municipal se reunissem e elaborassem coletivamente seus projetos. No entanto, não foi previsto um tempo para esses encontros e para isso acontecer teríamos que nos organizar em horários à noite ou nos fins de semana. Não é fácil elaborar projetos em grupo nessa vida corrida de professor. Não é má vontade dos educadores: é falta de tempo para discutir ideias, planejar atividades e avaliar o andamento do processo de ensino. Esse é um dos motivos do nosso trabalho ainda ser muito solitário: em casa, planejamos nossas aulas, com os alunos as desenvolvemos e nós mesmos as avaliamos. Algumas vezes, conseguimos conversar com a Orientação Escolar ou com a Direção da Escola sobre nossa metodologia, sobre os resultados das provas e sobre nossas angustias e alegrias.
Em nossa carreira profissional, cansamos de ouvir falar da importância dos projetos e raras escolas foram capazes de se organizar e trabalhar verdadeiramente dentro dessa linha. Com o tempo, acabei acreditando mais no que o professor da UNESC, Ademir Damázio, nos disse num encontro: “Eu não acredito em projetos, acredito em boas atividades”. Verdade! Há tantas atividades maravilhosas acontecendo dentro das salas de aulas e os projetos acabam em tentativas!
Enquanto eu editava as fotografias e os vídeos de um trabalho que desenvolvi com a turma 603 (6º Ano) da E.E.F. Demétrio Bettiol, fiquei emocionada. Meu objetivo principal era que eles assimilassem os conceitos de área e de perímetro. Percebo que o aluno que não compreende bem esses conteúdos está fadado a não entender álgebra, equação de 2º grau e o Teorema de Pitágoras, por exemplo. Para isso acontecer planejei atividades com papel quadriculado, recortes de jornais, medimos a quadra e construímos jogos. Costumo ter comigo uma câmera digital e por isso registrei alguns momentos. Depois, analisando as imagens e nossas ações, percebi quanta coisa fazemos e não notamos que são essências na vida das nossas crianças. É claro que tive que cortar a cena em que tenho que interromper as explicações porque um aluno reclamou que o outro estava lhe chamando de apelidos! Sob a sombra de uma árvore dei minha bronca... Mas entendo que essas situações desagradáveis fazem parte da vida coletiva, do papel de educador, da missão de corrigir as falhas humanas. O que me encantou mesmo foi vê-los pintando, recortando, contando, perguntando e aprendendo. Avaliei que eu e meus colegas não devemos sentir tanto aquela sensação de que a nossa missão não foi cumprida!
No dia 29 de agosto acontecerá, no Centro Comunitário de Cocal do Sul, a exposição de trabalhos, apresentações artísticas e produções dos projetos desenvolvidos pelas escolas da rede municipal no 1º semestre desse ano. É importante que toda a comunidade escolar visite para conhecer as coisas boas que acontecem dentro das escolas. Necessitamos trocar experiências com outros professores. Precisamos mostrar aos pais que trabalhamos para o crescimento intelectual e humano de seus filhos. Devemos mostrar que temos condições de superar as dificuldades de ensino. Temos que sentir orgulho do que sabemos fazer com qualidade!

segunda-feira, agosto 13, 2012

REFLEXÃO SOBRE OS JOGOS DA ESCOLA


            Quero refletir um pouco sobre o que vi e gostei e o que vi e não gostei nos jogos organizados pelos professores de Educação Física da minha escola...
            Nossos alunos passaram três dias competindo nas modalidades de futsal, de voleibol e de handebol. Havia tanta energia e alegria no ar! Nas arquibancadas eles podiam gritar à vontade. Dentro da quadra eles podiam se movimentar à vontade. Fora da sala de aula eles podiam ser mais espontâneos e livres.
            É muito lindo ver a torcida feminina enfileirada, batendo palmas em sintonia, vibrando e incentivando a sua turma. A união, tão ausente em nossas relações aparece naturalmente.
            Nós adultos, achamos até engraçado ver aqueles adolescentes com a mão suada, o coração batendo mais forte, as pernas tremendo, o rosto expressando aflição quando a disputa é apertada, os dedinhos fazendo “figa” e o olhar desconsolado das meninas quando falham, principalmente, no voleibol. São eles crescendo, são eles aprendendo a viver, são eles abraçados fazendo a oração do pai-nosso, são eles superando desafios, são eles descobrindo que na vida precisamos do outro para vencermos! Nessas horas penso que eu devia ter jogado mais...
            O que mais me incomodou nesses jogos? O lixo jogado nas arquibancadas! Por que não dão alguns passos a mais e colocam no saco plástico pendurado logo à frente? São eles imitando os adultos... Pedi que me ajudassem a recolher e vários responderam: “Não fui eu quem jogou?” Como é difícil educar para a cidadania! É claro que teve quem fez a diferença e colaborou ajudando na limpeza.
            O que me perturbou? Alguns alunos batiam incessantemente as garrafas PET vazias contra as arquibancadas provocando um barulho sem ritmo e por isso, insuportável. Fiquei com dúvidas em relação ao que deveria fazer: pedir para parar ou deixar que extravasassem. Estaria eu, sendo a “chata” se os proibisse de continuar? Ou, estaria eu, sendo omissa diante de um ato que parecia ser mais agressivo do que um jeito de torcer. Observei atentamente os alunos que faziam isso e tentei imaginar que prazer sentiam em causar tanto barulho. Na incerteza do que seria correto fazer, não interferi. Quantas dúvidas devem ter os pais deles quando precisam decidir entre o sim e o não, entre deixar e impedir, entre oferecer e negar!
            Um aluno da 6ª série começou a tocar “We will, we will rock you”, batendo a garrafa PET contra o concreto das arquibancadas e foi acompanhado pelos colegas nas palmas. Para eles era um momento de curtição e para mim de saudade. Não sei se eles sabem que essa música é do Queen e o que significa a tradução do refrão. Mas, eles estavam fazendo exatamente o que a letra diz: “Nós vamos, nós vamos sacudir você!”. Penso que eu devia ter dançado mais...

segunda-feira, julho 30, 2012

A MENINA QUE ROUBOU UMA LASCA DE SABONETE



Este é o pinheiro da história. Estive recentemente na comunidade de São Miguel, no município de Jaborá, localizado no oeste catarinense. Foi nesse lugar que me “criei”...
A irmã mais velha do meu pai se chama Olga, o meu irmão é o Ademir e o nome do Padre é Théo. A menina sou eu, mas ainda não sou Dona Josefa!

Dona Josefa entrou na sessão eleitoral, retirou o título da carteira surrada, entregou aos mesários, aguardou o encaminhamento do presidente de mesa e dirigiu-se à cabine segurando a “colinha” com o número dos cinco candidatos que escolheu desprovida de expectativas.
Ela pediu uma cadeira e foi prontamente atendida por um “convocado”. Sentou-se devagar. Abriu o papelzinho. Olhou os números. Achou incômoda a luminosidade da urna eletrônica. Suspirou fundo. Observou uma única pessoa na fila. Procurou os óculos na sacola. Secou o suor do rosto com um lenço amarrotado. E, de repente começou a girar a aliança no dedo. O comportamento estranho despertou a atenção dos presentes. Informaram-na de que deveria votar depressa.
Levantando a cabeça e fitando os olhos na parede, ela disse: “Há muitos anos atrás, uma menina de seis anos foi passear na casa da irmã mais velha de seu pai. Ela viu sobre a pia da cozinha uma lasca de sabonete. Sabe, a gente vai usando, vai usando, até que fica uma camada fina de sabonete. Ela sonhava em poder tomar banho com sabonete. Desejava ficar perfumada. Queria, pelo menos um dia, se livrar do sabão fedorento que seus próprios pais faziam com os porcos mortos doados pelo vizinho que era suinocultor. Aquela era uma oportunidade rara. Então, cometeu um grande crime: roubou a lasca de sabonete! Nunca mais esqueceu-se daquele ato abominável. Seu coração disparou por mais de duas horas. E, quando acalmou-se, a consciência veio lhe perturbar. No caminho de volta pra casa, andando ao lado do irmão, pensou em uma maneira de justificar o “futuro aparecimento de um pedacinho de sabonete”. Ela não teria coragem de contar a verdade à mãe. Sua ingenuidade era tamanha que sequer pensou na possibilidade de esconder o seu “roubo”. Então, o que foi que ela fez? Acredite! Jogou aquela lasca de sabonete na estrada de chão e fingiu que o encontrara naquele mesmo momento. O irmão percebeu que havia algo errado, embora fosse mais novo que ela. Imagine! Ela acabava de se entregar da maneira mais tola possível. A mãe, ao saber do fato, percebeu a mentira. Era impossível que um pedaço de sabonete, estivesse naquela curva da estrada, debaixo daquele pinheiro! Ela lembra que sua mãe não contou nada ao seu pai porque certamente apanharia com uma vara de vime ou com a cinta de couro. Mas, a dor maior estava em sua alma! Por sorte, estava preste a passar a Primeira Comunhão. Esse sacramento era recebido somente depois de confessar seus pecados. Aquela menina sossegou somente depois de ter pedido perdão ao Padre. E, nunca mais, nunca mais na vida, roubou nada de ninguém. Agora, ela está aqui. Não é mais uma garotinha pura. É uma velha mulher que amadureceu seguindo os princípios bons, obedecendo aos mandamentos de Deus e buscando aprender todos os dias. Sempre ensinou seus filhos pelos exemplos. Nunca manchou seu caráter. Sim, errou muito. Porém, sempre soube corrigir seus erros. Agora, ela não quer errar. Mas, está apavorada porque dependendo de suas decisões, ela pode ser cúmplice de ladrões, mentirosos, bandidos e corruptos. Ela pode estar ajudando pessoas que jamais se arrependerão de roubar uma lasca de sabonete. E, infelizmente, são eles que entram na casa dos brasileiros com mais facilidade. Não conseguimos detectá-los facilmente. Não quero ser enganada.”
Na fila, mais de dez eleitores aguardavam a sua vez. Todos em silêncio, atônitos diante da inusitada situação, viram Dona Josefa pedindo que cancelassem seu voto. Depois, educadamente, desculpou-se e saiu.
Os demais continuaram ali para exercer seu direito de votar. Direito esse, que muitos fazem valer porque é também, um dever.
 Esse vídeo mostra um pedacinho das terras de Jaborá.
Professora da E.E.F. Demétrio Bettiol

segunda-feira, julho 09, 2012

PRA QUÊ ESTUDAR?


O horário de pegar a pasta e ir para a parada de ônibus estava se esgotando rapidamente. A mãe de Eduardo percebeu a embromação do filho e o alertou com severidade. O moço suspirou, reclamou da professora, foi para o quarto e se jogou na cama.
Durante o primeiro intervalo da novela das sete, a irritante Ana Cláudia, percebeu que o irmão dormia, sem se quer ter apagado a luz. Imediatamente procurou pelo pai que acabara de voltar da rua, onde passou o dia buscando emprego. Num tom maldoso, a menina diz que Eduardo não tem feito as tarefas escolares e está faltando às aulas porque é um preguiçoso. O clima de tensão aumenta dentro da casa, após o barulho do copo que se estraçalha violentamente, ao ser arremessado contra a parede. Segundos após, enquanto o pai chora convulsivamente, Eduardo chega à cozinha e é questionado:
- Por que você não foi para a aula, meu filho? Como poderás conseguir um futuro melhor desse jeito? Queres ser um desgraçado, como eu?
- Você não é um desgraçado e descobri que a escola não pode fazer nada por mim.
- Como assim?
-  De que adianta eu saber o que são substantivos deverbais? Que a fórmula química da glicose é C6H12O6? Que o quadrado da soma de dois termos é igual ao quadrado do primeiro termo, mais duas vezes o produto do primeiro pelo segundo termo, mais o quadrado do segundo termo? Que a tradução de I’m going to the beach this weekend é “Eu vou à praia neste fim de semana”? Que o grande pintor Van Gogh lutou muito contra a pobreza, a fome, o alcoolismo e a loucura e encerrou sua agonia com um tiro no peito? Que a Zona da Mata é úmida e tem solos férteis? Que a auxina é um hormônio que atua no crescimento das plantas? Que a cidade de Santos transformou-se em grande porto exportador de café? Que a velocidade da luz, no vácuo e no ar,  é de 300 mil quilômetros por segundo? De que me adianta saber disso tudo, meu pai, se estou fadado a ser um desempregado nesse país corrupto que não dá condições dignas de vida para sua população?
-  Não sei exatamente o que lhe responder, meu filho. Mas com certeza eu estaria mais tranqüilo se soubesse o que é um substantivo, que existe essa tal de glicose, se tivesse estudado esse troço comprido que você falou e que parece matemática. Talvez eu fosse mais respeitado se entendesse mais do que I love you, em inglês. Quem sabe, eu me sentiria mais valorizado se eu soubesse onde fica a Zona da Mata e que a cidade de Santos se localiza num litoral, o que acabei de descobrir na sua fala. Provavelmente, eu não estaria pensando, com 45 anos de idade, que hormônio só tem em seres humanos. Obviamente que eu não seria tão rápido quanto a luz, mas também, não seria tão devagar quanto um cidadão sem instrução perdido numa sociedade capitalista exigente.
-  Eduardo respondeu com muitas lágrimas!

quinta-feira, junho 28, 2012

SETE MINUTOS


Dediquei muitas horas de estudo para conhecer um material didático interessante para ensinar polinômios aos alunos da sétima série. Planejei as aulas cuidadosamente. Fui além, elaborando jogos. Organizei a turma em grupos de quatro membros. Distribuí quadrados e retângulos azuis e vermelhos. Peguei a listagem de exercícios. Iniciei o conteúdo sempre interagindo com a classe.
De repente, percebi que quatro meninos estudavam para a prova de Ciências que aconteceria assim que meu tempo terminasse. Fiquei indignada. Mais ainda, depois que descobri que aquela avaliação seria com consulta! Critiquei-os, cheia de razão, sob meu ponto de vista: “Vocês apresentam dificuldades em matemática. Eu preparo uma aula prática para que possam compreender melhor o conteúdo em questão. O que pretendem? Fico decepcionada com essa atitude que me leva a crer que realmente não preciso ajudá-los. Se reprovarem, posso lavar minhas mãos. A minha parte, eu fiz e bem feita.
Após desabafar na sala dos professores, ouvi uma sugestão: “Assista uma peça teatral gravada em DVD, intitulada Sete Minutos, com Antônio Fagundes. Irás se identificar com o ator decepcionado e irritado com as atitudes do público. Ele próprio a escreveu relando os problemas encontrados nos palcos em relação ao comportamento da platéia. Assim, vai lhe ajudar a superar essas decepções.”
Sempre gostei da interpretação de Antonio Fagundes na televisão e no cinema. A partir de agora eu o admiro incondicionalmente. A peça que vi é obra de sua vivência de ator iniciada há trinta e sete anos, quatro anos antes do meu nascimento!
Pude fazer comparações do trabalho dele com o meu em sala de aula, que excedem o espaço que me é reservado para escrever. Ele reclamava das tosses, dos roncos, dos celulares tocando, das balas sendo passadas, do barulho do pacote de batatinhas e do homem que teve a audácia de tirar o sapato e colocar os pés sobre o palco. Eu pensava nas coisas que perturbam, nós professores, enquanto ministramos nossas aulas: chicletes, pirulitos, papéis de bala no chão, bonés tapando os olhos, conversas sobre namorados, bolinhas de papel, espelhos, batons, escovas de cabelo, alunos na janela, recadinhos circulando, carteiras riscadas, livros esquecidos, tarefas esquecidas, materiais esquecidos, trabalhos esquecidos.
O que dói não são os fatos isolados. O que nos machuca é saber que nos preparamos para apresentar um modesto espetáculo e somos desrespeitados por pessoas que deviam estar ávidas para buscar ampliar seus conhecimentos, desenvolver seu raciocínio e partilhar idéias.
Fagundes, representando a si próprio na peça, recusou-se a continuar com a peça por causa do comportamento de algumas pessoas e expulsou todos do teatro. Os protestos dos expulsos e dos atrasados, impedidos de entrar, lhe renderam muitas críticas, inclusive, dos próprios colegas. Que professor já não foi criticado por não aceitar que um aluno entrasse atrasado ou por ter retirado da sala alguém que tenha lhe ofendido? Inclusive, pelos próprios colegas de profissão? Ele admite: “O ator que faço é o único que leva pancada de todos os lados e é o que mais tem a aprender.”
As nossas reclamações podem ser uma declaração de amor ao Magistério. Concluo com as palavras de Antonio Fagundes: “A peça é uma declaração de amor porque estou prestando atenção a eles. Seria uma agressão se eu ignorasse aquelas pessoas. Pode fazer o que quiser que não me atinge! Não, me atinge, eu me incomodo com eles, eu me preocupo com eles. Não é só uma declaração de amor quando você diz que ama; é uma declaração de amor quando você diz que se importa.”

Professora da E.E.F. Demétrio Bettiol
Revisão de texto: Eliane Teza Bortolotto

domingo, junho 17, 2012

PROFESSORA, ME LEVA PARA AS OLIMPÍADAS DE MATEMÁTICA!

Um exemplo de problema de Olimpíada de Matemática...
A figura dada é formada por um triângulo e um retângulo, usando-se 60 palitos iguais. Para cada lado do triângulo são necessários seis palitos. Se cada palito mede 5 cm de comprimento, qual é a área (em cm²) do retângulo da figura?
(a) 1 200        (b) 1 800      (c) 2 700      (d) 3 600       (e) 4 500
OBS: No momento da correção solicitei que os alunos representassem a figura do problema usando palitos de fósforos para que conseguissem interpretar melhor a situação-problema.

Em maio de 2005, assim que entrei na sala de aula e soltei meu material sobre a mesa, ouvi um pedido inesperado do Maiquinho: “Professora, me leva para as Olimpíadas de Matemática!” Imediatamente, respondi: “Não vamos até às Olimpíadas: elas é que virão até nós. Já fizemos a inscrição. Nossa escola participará, sim.
Associamos a palavra olimpíada aos jogos que acontecem de quatro em quatro anos, originariamente efetuados na cidade de Olímpia - na Grécia antiga – e que, depois de um longo tempo esquecidos, foram retomados em 1896. A relação com o esporte é tão evidente que freqüentemente se ouvia a seguinte pergunta: “Quando é que vai acontecer a Maratona de Matemática?”. Vamos abrir outro parêntese para falar sobre o sentido de maratona: corrida pedestre de cerca de 42 km - distância de Maratona a Atenas. Segundo o dicionário, pode significar também, uma competição esportiva, lúdica ou intelectual. Talvez, fosse mais adequado chamar a Olimpíada de Matemática de Maratona de Matemática. Aliás, as maratonas acontecem todos os anos, assim como as Olimpíadas de Matemática.
Expliquei às turmas que a organização dessas olimpíadas é diferente dos jogos olímpicos que conhecemos através da televisão e dos jornais.
As provas não são realizadas diante de uma torcida numa cidade escolhida e para onde se deslocam várias equipes. O local da competição é na própria escola.
Na verdade, os testes são individuais e tradicionais - vinte questões com cinco alternativas cada uma. As habilidades avaliadas são teóricas e não físicas.
Os alunos que se destacarem nas provas poderão receber medalhas de ouro, prata ou bronze. Alguns ganharão bolsas de estudo.
Essa participação gerou expectativas e experiências interessantes. No dia da prova, havia alunos dizendo que estavam ansiosos para fazê-la, outros sentiam uma “dorzinha de barriga” e não faltaram os “indiferentes que chutaram resultados porque não valia nota para o boletim”.
Depois, revendo e corrigindo as questões, percebemos como muitas crianças vibravam ao descobrir que acertaram determinados problemas. Os comentários mostravam a repercussão: “Eu falei com minha mãe sobre o problema do tanque de gasolina do carro. Era fácil, eu não podia ter errado.” Outros riam por terem se atrapalhado: “E aquele da régua? Caí direitinho.” E havia observações que nos davam a certeza de estarmos no caminho certo, enquanto educadores: “Eu entendi aquela questão das peças porque era igual aquela que a professora ensinou pra nós com o material dourado.”
E, antes de divulgar os resultados, quando souberam que a lista dos classificados estava pronta, não faltaram tentativas pra conhecer antecipadamente o nome dos que nela constavam: “Diz pelo menos se alguém da nossa sala passou. Por favor, professora!
Olhando às folhas amarelas – prova do nível I - e rosas – prova do nível II – me perguntei: “Quais são as possibilidades de alguém acertar todas as vinte questões que nelas constam, apenas chutando uma das cinco alternativas?” Peguei uma calculadora simples e não consegui porque o resultado ultrapassava os oito dígitos que podem aparecem em seu visor. Troquei-a por uma científica e também não deu um valor preciso porque esta podia apresentar somente doze dígitos. Finalmente, tive que usar a calculadora do meu computador, que aceita até trinta e dois dígitos e assim, consegui a resposta: uma chance em noventa e cinco trilhões, trezentos e sessenta e sete bilhões, quatrocentos e trinta e um milhões, seiscentos e quarenta mil e seiscentos e vinte e cinco possibilidades. Parece impossível? Graças aos conhecimentos matemáticos podemos provar que não é. E, inclusive, tivemos a certeza de que para se sair bem em uma prova é necessário ter mais conhecimento do que sorte.

domingo, junho 10, 2012

FESTA JUNINA NAS ESCOLAS


            Sinto saudades das festas juninas organizadas pelas escolas antigamente! A comunidade aguardava essa data cheia de expectativas. A maioria dos festeiros preparava a vestimenta com esmero. O dinheiro para comprar os quitutes era reservado com muita dificuldade. Os alunos passavam pela tensão de fazer apresentações em público. Só se ouvia as canções típicas e não tinha música eletrônica em nenhum momento!
            Hoje, a E.E.F. Demétrio Bettiol é uma das poucas escolas que conheço e que ainda preserva muito dessa tradição cultural. As instituições de ensino estão optando por fazer apenas a festa junina interna. E logo, logo, não haverá nem isso.
            Nós, educadores, já reclamamos muitas vezes do excessivo trabalho que dá organizar uma festa junina. Já afirmamos que é hora de acabar com elas porque o lucro não compensa. Eu ouço isso e fico um pouco triste porque vejo nelas um raro momento de reunir pais, alunos, funcionários e as demais pessoas da comunidade. Cogitamos não trabalhar como forma de protesto à falta de valorização que temos sofrido por parte do poder público. Desistimos porque além de não acertar o alvo, poderíamos estar dando “um tiro no próprio pé” ou descobrirmos que pessoas foram atingidas pelo “fogo amigo”. Não podemos esperar que o poder público siga o exemplo das empresas modelo em gestão, que já compreenderam que qualidade se faz também, garantindo a satisfação dos seus funcionários.
            Voltemos à festa... Os participantes da festa puderam se divertir com atrações como, a pescaria, o bazer e o “porquinho-da-índia”. Os professores de Educação Física, João Fabrício Somariva, Marcos Medeiros Pereira e Alitéia dos Santos, organizaram as apresentações de quadrilhas e dança country. A apresentação cultural “Boi-de-mamão” foi organizada pelo professor de música, Rodrigo Cardoso. Particularmente, fique encantada com a alegria proporcionada por essa brincadeira. Eu nunca havia assistido uma apresentação completa. Quanta coisa interessante acontece dentro da escola e não ficamos sabendo?
Pensei no trabalho silencioso dos educadores, nas atividades que programam pensando em qualificar o ensino da sua disciplina, nas experiências individuais e coletivas que proporcionam o crescimento intelectual e pessoal das crianças, na persistência em acreditar na Educação e nos problemas que todos os dias são solucionados ou que aguardam solução. Precisamos mostrar mais as coisas boas que acontecem dentro da escola. Precisam dar ênfase aos acontecimentos positivos.

sábado, junho 02, 2012

VIDEOCLIPE TRABALHO DE LÍNGUA PORTUGUESA


Videoclipe apresenta o trabalho realizado pela professora de Língua Portuguesa, Tatiane Périco Sazan, da E.E.F. Demétrio Bettiol. As turmas envolvidas foram a 703 e 704 do período vespertino.
O trabalho iniciou-se com um texto do livro didático: O coronel de Macambira. A história conta o drama de um engenheiro agrimensor. Para que os alunos conhecessem mais essa profissão esteve na escola um profissional da área, Ademir Magagnin.
As alunas Érika Acordi Quaresemin e Alice Ferreira Inácio contam em poucas palavras a curiosa história de Natal Coral, um engenheiro italiano que atuou em Nova Veneza, trabalhando na Companhia de Colonização.
Desejamos que os demais professores sintam-se motivados a mostrar seus projetos aplicados em prol da Educação dos alunos de nosso município.

domingo, maio 27, 2012

ALGUNS DIAS EM ILHAS

 
Tá vendo aqueles passarinhos enfileirados no fio elétrico? Eles me fazem lembrar do quanto fui bandido! Acho que é pelo arrependimento das coisas que fiz com eles que hoje não suporto ver um desses bichinhos presos em gaiola. Já avisei o Batista: "Solte esse rouxinol antes que eu o faça."
Na minha infância, junto com meus amigos, eu ia para o mato com uma espingardinha de pressão ou um estilingue. E a gente matava só pra fazer "pó de mico" e jogar nas pernas das meninas! Era a maior diversão matar beija-flor e andorinha. Depois, nós os jogávamos num ninho de formigas para que elas deixassem só os ossos, que era o que nos interessava. Passados uns quinze dias, a gente buscava os restos mortais, torrava no forno do fogão, moía com uma garrafa de vidro e guardava em saquinhos. Então, aos finais de semana, nos bailinhos, disfarçadamente a gente jogava nas pernas das meninas. Era uma festa rir delas, se coçando o tempo todo. Veja se tem cabimento? É um crime destruir a natureza apenas por maldade.
Não, não, não! Continue remando no lado direito da canoa. Eu dou a direção daqui de trás. Você observou os redemoinhos formados pela pá do remo na água? É um constante surgir e desaparecer. Isso me lembrou do enorme e maravilhoso redemoinho que enxergamos do alto do "Tapete Mágico", lá no Beto Carrero. Até consegui bater uma fotografia de lá das alturas, apesar da adrenalina.
Tem um povo sentado em círculo nas dunas. Deve ser aquele pessoal da igreja que está fazendo um retiro nesse lugar. Na rua do mercadinho tem uma casa com várias barracas no pátio. Ontem à noite eu os vi orando ao redor da mesa de jantar. Os evangélicos costumam organizar retiros espirituais em época de Carnaval.
A vizinhança adorou o trapiche. A rapaziada vive saltando. É uma gritaria geral. Ainda não fui me aventurar com eles, mas não vai demorar. Os bombeiros mudaram de idéia: disseram que iam tira o trapiche por questão de segurança e o assunto morreu!
Hoje bem cedo, os pescadores estavam frustrados. Pouco peixe caiu na rede. Descobri porque construíram aquela casinha sobre as dunas. Toda noite um deles fica lá do outro lado do rio vigiando. A casinha serve como proteção caso se forme uma tempestade repentina ou chova forte, não é pra dormir.
Eu não gostaria de sair desse paraíso. Observe que impressionante: o canal, o pântano, o Rio Araranguá, a faixa de areia e o mar. Tudo é perfeito! Há uma sintonia que faz bem à alma. Esse silêncio apaga os problemas cotidianos.
Olhe para o Morro dos Conventos. Quem está lá, vê o quando isso aqui é bonito. Porém, quem está aqui sente o quanto isso é lindo!
Vamos mergulhar nessas águas de Ilhas antes que anoiteça ou o tempo acabe?

segunda-feira, maio 21, 2012

SKYWALKER: CAMINHANTE DOS CÉUS

Os alunos foram avisados de que naquela terça-feira não haveria aula porque os professores participariam de uma reunião pedagógica. Eles gostaram do aviso porque poderiam dormir até mais tarde e assistir o desenho animado do Bob Esponja Calça-Quadrada. Poucos aproveitaram a folga para estudar mais um conteúdo que acham difícil, ler um livro, fazer as tarefas ou mesmo ajudar nos afazeres domésticos.
Enquanto isso, os professores desligaram o piloto-automático e assistiram a um filme que objetivava reanimar o trabalho docente. Certamente, aquele filme – Escola da Vida – não era dos melhores pra refletir sobre questões educacionais devido aos momentos que fogem da realidade. Afinal de contas, que escola tem estrutura pra dramatizar uma história acendendo uma fogueira dentro da própria sala de aula? Que professor ganha tão bem que pode adquirir roupas épicas a fim de trazer o passado mais próximo da realidade? Que condições existem para que se possa planejar uma aula de Ciências exibindo um pulmão em perfeito estado de conservação? Como pode o novo agradar tanto se não apresenta as marcas da experiência? Como pode o velho ser tão ruim diante das mudanças da modernidade? O bonito encanta e o feio é um tolo? O renovador é maravilhoso e o tradicional é uma tragédia? É certo ensinar a perder com alegria? É correto competir às custas da exclusão dos mais fracos? Enfim, nem um filme é perfeito! Assim, como nenhum profissional está plenamente formado.
Embora as interpretações e as partes que mais tocaram aqueles profissionais não sejam as mesmas, houve um discurso – de um jovem professor - que prendeu a atenção de todos: “Estudar é coisa pra heróis. Ir para casa é como encarar uma “Guerra nas Estrelas”. Vocês são como o Luke Skywalker ou Lucy Skywalker, conforme o caso. E a escola é onde recebemos o treinamento Jedi. Afinal, precisamos nos preparar para enfrentar o Império do Mal. Mas, o Império do mal não é a escola, não são nossos pais, nem a salsicha de gosto duvidoso da lanchonete. Não! O Império do Mal é uma crença. É crer que temos limitações. Não temos. Talvez não saibam, mas todos vocês são suspeitos. Normam Warner (refere-se a um antigo professor)  foi meu mestre Jedi. O grande ensinamento que ele me passou foi como aprender sozinho; ser meu próprio mestre. Quero que aprendam que não devem se preocupar com o que vocês farão. Isso não importa. Preocupem-se com o que vocês serão. Assim, nenhum bundão vai impedir que vocês realizem seus sonhos. Este é o seu sabre de luz (fala mostrando um simples lápis). Toque numa simples folha de papel com fé, emoção e coragem e juntos faremos desse mundo um lugar melhor e me levem nessa jornada com vocês.
As reações foram diversas. Alguns relembraram a história de Guerra nas Estrelas, outros frisaram o descrédito do ser humano no seu potencial evolutivo, admiraram a importância do lápis como instrumento de poder educativo e até retomaram momentaneamente seus sonhos de participar da construção de um mundo melhor.
Entretanto, um educador resolveu tecer apenas um comentário estranho: “Vejo em Skywalker as palavras céu e caminhante.  Sky, céu! Walker, caminhante! É tão fácil criar personagens marcantes. É tão difícil ser uma pessoa importante para a humanidade.Fazer filmes é mais simples do que construir a realidade! Antes que eu vire as costas estarão dizendo que estou fora de órbita. Mas, quem  é que pode ter certeza de estar no caminho certo. Talvez as borboletas e as baleias que não pensam, seguem a natureza!”
A maioria saiu convencida, mesmo inconscientemente, de que precisava ampliar o conceito do que é um lápis...

sexta-feira, maio 11, 2012

MÃO DE MÃE



Que mão é essa,
que faz aviãozinho com a colher?
que segura o tapa merecido?
que convence o incrédulo?
que aplaude qualquer sucesso?

Que mão é essa,
que prende a teimosia no quarto?
que passa pomada nas feridas?
que não pode mais tocar no Ser criado em seu ventre?
que nervosa disca incontáveis vezes o mesmo número ?

Que mão é essa,
que leva a toalha de banho?
que fecha a porta com cuidado?
que ajuda a escrever uma história sublime?
que seca as lágrimas da decepção?

Que mão é essa,
que prepara o chá com hortelã?
que risca as palavras mais cruéis?
que vasculha os objetos alheios?
que compreende os tropeços inaceitáveis?

Que mão é essa,
que trança o cabelo perfumado?
que acha belo seu reflexo?
que espanta os medos da vida?
que resolve os problemas dos outros?

Que mãe é essa,
que faz tudo o que está ao alcance das suas mãos?

sábado, maio 05, 2012

QUERES SER UNIVERSAL, COMEÇA POR PINTAR TUA ALDEIA!

A Revista Carta na Escola, na edição de abril de 2012, publicou uma matéria chamada “Geometria no computador”. Um trabalho desenvolvido com alunos da E.E.F. Demétrio Bettiol está em destaque. Aproveitamos o momento para tornar público essa experiência educacional. Para saber mais e assistir ao vídeo, clique na imagem.

Participei da 1ª Conferência Latino-Americana de Geogebra realizada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Esse evento ocorreu nos dias 13, 14 e 15 de novembro de 2011.
O que é o Geogebra? O próprio nome o apresenta, pois é a junção das palavras geometria e álgebra. É um software gratuito de matemática dinâmica que está conquistando os professores de matemática do mundo! Já foi traduzido para 58 idiomas, fundou 85 institutos e é conhecido em 190 países.
O segredo de tanto sucesso pode ser explicado pela frase escolhida para a abertura da apresentação de Zsolt Lavicza, responsável pelo suporte aos institutos criados para divulgar os projetos do software Geogebra. Em sua palestra ele repetiu um provérbio africano: “Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado." Muita gente contribui com esse projeto que começou em 2001, como tese de mestrado do austríaco Markus Hohenwarter. Alguns colaboram com seus conhecimentos matemáticos, outros com sua capacidade para traduzir línguas, outros usando seus saberes sobre programação de computadores, outros organizando formação continuada para ensinar os professores. Enfim, é uma comunidade que aumenta diariamente. Quem gosta de matemática, quem ama a Educação, quem acredita que é possível qualificar o ensino da disciplina mais criticada pelos péssimos resultados apresentados, está participando para ajudar e receber apoio.
Quando eu soube que durante o feriadão haveria um grupo de aproximadamente duzentas pessoas apresentando suas pesquisas, trocando experiências e discutindo as perspectivas para o uso do software Geogebra, enviei uma mensagem eletrônica parabenizando os coordenadores pela iniciativa. Despretensiosamente, anexei o trabalho que faço na E.M.E.F. Padre José Francisco Bertero em Criciúma e na E.E.F. Demétrio Bettiol, de Cocal do Sul. Fui surpreendida com o convite da Dra. Celina Abar, responsável pelo Instituto Geogebra de São Paulo, para que eu fosse apresentar meu trabalho. Minha primeira reação foi agradecer e dizer que no momento eu não tinha condições. Depois lembrei de uma frase de Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia!” Então, pensei: “Posso estar jogando fora a oportunidade que tenho de contar sobre as coisas boas que acontecem na minha terra.”
Fui a última conferencista a apresentar minha experiência, cujo título era “O Uso do software Geogebra no Ensino Fundamental II”. Iniciei dizendo que descobri que sabia muito de espanhol e pouco de Geogebra. Entendi quase tudo o que as pessoas que vieram da Espanha, da Costa Rica, da Argentina, do Uruguai e do Chile falaram e compreendi muito pouco sobre as pesquisas desenvolvidas usando o Geogebra. Fiquei pensando nas coisas “malucas” que aqueles professores pesquisadores estavam desenvolvendo em suas escolas e universidades. Perguntei-me se a “maluca” não seria eu, em querer que meus alunos do 6º ano conheçam as ferramentas do programa. Também pode ser que eu esteja dando o primeiro passo para que minhas crianças entendam, no futuro, o que é que o Geogebra tem a ver com palmito, semente de girassol e as asas da libélula.
 Quando senti que minha missão estava cumprida, chorei! Era um choro silencioso e gratificante. Foi maravilhoso saber que as atividades que desenvolvo com meus alunos servem como referência para os cursos de formação continuada desenvolvidos pela Faculdade de Tecnologias – FATEC – de Ourinhos, em São Paulo.  Jamais imaginei que um dia estaria contando com a ajuda do assessor de matemática da Costa Rica na tradução das minhas palavras para que um dos professores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, entendesse o que acontece nas nossas escolas.
Não quero que pensem que por isso tudo faço um trabalho incrível. Tenho certeza de que meu trabalho requer muita melhoria. Começo a encontrar pessoas dispostas a trocar experiências, a fazer críticas e sugestões. O trabalho do professor não pode ser solitário. Trabalhar em equipe é o grande desafio dos educadores. Reconheço que as condições reais para isso não existem em nossas instituições de ensino, mas quem sabe a gente encontre uma solução razoável.
       Agradeço às pessoas que me deram apoio para cantar as coisas da minha aldeia! Há pessoas que sem saber contribuem para que a comunidade Geogebra cresça, se una, se fortaleça e descubra caminhos para resolver os problemas da Educação Matemática. Precisamos de ação e não de discursos. E agir não é tão fácil quanto discursar.