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segunda-feira, julho 09, 2012

PRA QUÊ ESTUDAR?


O horário de pegar a pasta e ir para a parada de ônibus estava se esgotando rapidamente. A mãe de Eduardo percebeu a embromação do filho e o alertou com severidade. O moço suspirou, reclamou da professora, foi para o quarto e se jogou na cama.
Durante o primeiro intervalo da novela das sete, a irritante Ana Cláudia, percebeu que o irmão dormia, sem se quer ter apagado a luz. Imediatamente procurou pelo pai que acabara de voltar da rua, onde passou o dia buscando emprego. Num tom maldoso, a menina diz que Eduardo não tem feito as tarefas escolares e está faltando às aulas porque é um preguiçoso. O clima de tensão aumenta dentro da casa, após o barulho do copo que se estraçalha violentamente, ao ser arremessado contra a parede. Segundos após, enquanto o pai chora convulsivamente, Eduardo chega à cozinha e é questionado:
- Por que você não foi para a aula, meu filho? Como poderás conseguir um futuro melhor desse jeito? Queres ser um desgraçado, como eu?
- Você não é um desgraçado e descobri que a escola não pode fazer nada por mim.
- Como assim?
-  De que adianta eu saber o que são substantivos deverbais? Que a fórmula química da glicose é C6H12O6? Que o quadrado da soma de dois termos é igual ao quadrado do primeiro termo, mais duas vezes o produto do primeiro pelo segundo termo, mais o quadrado do segundo termo? Que a tradução de I’m going to the beach this weekend é “Eu vou à praia neste fim de semana”? Que o grande pintor Van Gogh lutou muito contra a pobreza, a fome, o alcoolismo e a loucura e encerrou sua agonia com um tiro no peito? Que a Zona da Mata é úmida e tem solos férteis? Que a auxina é um hormônio que atua no crescimento das plantas? Que a cidade de Santos transformou-se em grande porto exportador de café? Que a velocidade da luz, no vácuo e no ar,  é de 300 mil quilômetros por segundo? De que me adianta saber disso tudo, meu pai, se estou fadado a ser um desempregado nesse país corrupto que não dá condições dignas de vida para sua população?
-  Não sei exatamente o que lhe responder, meu filho. Mas com certeza eu estaria mais tranqüilo se soubesse o que é um substantivo, que existe essa tal de glicose, se tivesse estudado esse troço comprido que você falou e que parece matemática. Talvez eu fosse mais respeitado se entendesse mais do que I love you, em inglês. Quem sabe, eu me sentiria mais valorizado se eu soubesse onde fica a Zona da Mata e que a cidade de Santos se localiza num litoral, o que acabei de descobrir na sua fala. Provavelmente, eu não estaria pensando, com 45 anos de idade, que hormônio só tem em seres humanos. Obviamente que eu não seria tão rápido quanto a luz, mas também, não seria tão devagar quanto um cidadão sem instrução perdido numa sociedade capitalista exigente.
-  Eduardo respondeu com muitas lágrimas!

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