Quem mora na região sul de Santa Catarina pouco sabe
sobre o Estreito do Rio Uruguai. As belezas da natureza, o encanto das rochas
do leito do rio e a força das águas estão na memória do povo do oeste do nosso
estado.
O Estreito Augusto Cezar, “localizava-se”
no município gaúcho de Marcelino Ramos e na região catarinense que “passava” por Alto Bela Vista,
município que se emancipou de Concórdia em 1995. Nesse trecho de 8
quilômetros, o majestoso Rio Uruguai, que em alguns pontos chega a ter 500
metros de uma margem a outra, se espreme em um canal de 8 metros de largura por
70 de profundidade. Na época de estiagem, o leito deixa à mostra uma ponte de
pedra que une Santa Catarina ao Rio Grande do Sul. No famoso Passo da Formiga era possível,
mas perigoso, colocar um pé em cada estado.
Eu presenciei o enterro do Estreito Augusto César
quando era estudante de um colégio estadual, no município de Concórdia. Estive
lá no ano de 1990. Lembro-me dos ônibus buscando todos os alunos das escolas da
região para levá-los para conhecer o lugar que seria submerso pelas águas. Um
projeto da “Eletrosul” nos deu a oportunidade de testemunhar a existência de
uma maravilha que seria destruída pelas mãos humanas. Diziam que era preciso
sacrificar a natureza em prol do progresso, que era preciso acabar com um
pedaço do paraíso na terra para que a hidrelétrica de Itá nascesse. Muita gente
ficou inconformada e tentou em vão lutar contra o capitalismo que mata!
Quando o nível das águas subiu,
enterrou 33 escolas, 30 igrejas, 25 cemitérios, 34 clubes comunitários, 24
campos de futebol, um hospital e centenas de casas abandonadas, além de uma
imensidão em pastos e plantações. Também vão ficar submersos 148 hectares de
uma mata em que viviam 163 espécies de animais.
Meu marido, Celso Luiz Cousseau, tem lembranças
incríveis do lugar: boas e ruins. As recordações boas são dos momentos de
acampamento, reunião de amigos, exploração das cavernas e cachoeiras, banhos e
pescarias. E as ruins, são de pessoas conhecidas que morreram por não perceberem
os riscos que corriam ao explorar os fascínios do lugar: “Foi aí que o Pedrinho e as duas filhas morreram. Ele foi encontrado
abraçado a uma delas!”
Foi também nesse cantinho do mundo que meu marido
viveu uma das experiências mais marcantes em sua vida. Uma vez, ele e um amigo
estavam num caíco que as correntezas puxavam para um dos “trituradores”.
Remaram com todas as forças enquanto ouviam os gritos desesperados do dono do
restaurante que havia nas margens do rio. Até hoje, diz que foi Deus quem empurrou
a pequena embarcação para fora da área de perigo. Talvez, ele seja um
sobrevivente das armadilhas do estreito do Uruguai!
Como eu gostaria de poder voltar lá! Não dá mais.
Posso reviver através das imagens, mas não tem a mesma emoção. Tem coisas que
perdemos para sempre, mas que eternamente ficarão em nossas memórias. A vida é
assim mesmo...