Tá vendo aqueles
passarinhos enfileirados no fio elétrico? Eles me fazem lembrar do quanto fui
bandido! Acho que é pelo arrependimento das coisas que fiz com eles que hoje
não suporto ver um desses bichinhos presos em gaiola. Já avisei o
Batista: "Solte esse rouxinol antes que eu o faça."
Na minha infância, junto
com meus amigos, eu ia para o mato com uma espingardinha de pressão ou um
estilingue. E a gente matava só pra fazer "pó de mico" e jogar nas
pernas das meninas! Era a maior diversão matar beija-flor e andorinha. Depois,
nós os jogávamos num ninho de formigas para que elas deixassem só os ossos, que
era o que nos interessava. Passados uns quinze dias, a gente buscava os restos
mortais, torrava no forno do fogão, moía com uma garrafa de vidro e guardava em saquinhos. Então,
aos finais de semana, nos bailinhos, disfarçadamente a gente jogava nas pernas
das meninas. Era uma festa rir delas, se coçando o tempo todo. Veja se tem
cabimento? É um crime destruir a natureza apenas por maldade.
Não, não, não! Continue
remando no lado direito da canoa. Eu dou a direção daqui de trás. Você observou
os redemoinhos formados pela pá do remo na água? É um constante surgir e
desaparecer. Isso me lembrou do enorme e maravilhoso redemoinho que enxergamos
do alto do "Tapete Mágico", lá no Beto Carrero. Até consegui bater
uma fotografia de lá das alturas, apesar da adrenalina.
Tem um povo sentado em
círculo nas dunas. Deve ser aquele pessoal da igreja que está fazendo um retiro
nesse lugar. Na rua do mercadinho tem uma casa com várias barracas no pátio.
Ontem à noite eu os vi orando ao redor da mesa de jantar. Os evangélicos
costumam organizar retiros espirituais em época de Carnaval.
A vizinhança adorou o
trapiche. A rapaziada vive saltando. É uma gritaria geral. Ainda não fui me
aventurar com eles, mas não vai demorar. Os bombeiros mudaram de idéia:
disseram que iam tira o trapiche por questão de segurança e o assunto morreu!
Hoje bem cedo, os
pescadores estavam frustrados. Pouco peixe caiu na rede. Descobri porque
construíram aquela casinha sobre as dunas. Toda noite um deles fica lá do outro
lado do rio vigiando. A casinha serve como proteção caso se forme uma
tempestade repentina ou chova forte, não é pra dormir.
Eu não gostaria de sair
desse paraíso. Observe que impressionante: o canal, o pântano, o Rio Araranguá,
a faixa de areia e o mar. Tudo é perfeito! Há uma sintonia que faz bem à alma.
Esse silêncio apaga os problemas cotidianos.
Olhe para o Morro dos
Conventos. Quem está lá, vê o quando isso aqui é bonito. Porém, quem está aqui
sente o quanto isso é lindo!
Vamos mergulhar nessas
águas de Ilhas antes que anoiteça ou o tempo acabe?