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domingo, maio 27, 2012

ALGUNS DIAS EM ILHAS

 
Tá vendo aqueles passarinhos enfileirados no fio elétrico? Eles me fazem lembrar do quanto fui bandido! Acho que é pelo arrependimento das coisas que fiz com eles que hoje não suporto ver um desses bichinhos presos em gaiola. Já avisei o Batista: "Solte esse rouxinol antes que eu o faça."
Na minha infância, junto com meus amigos, eu ia para o mato com uma espingardinha de pressão ou um estilingue. E a gente matava só pra fazer "pó de mico" e jogar nas pernas das meninas! Era a maior diversão matar beija-flor e andorinha. Depois, nós os jogávamos num ninho de formigas para que elas deixassem só os ossos, que era o que nos interessava. Passados uns quinze dias, a gente buscava os restos mortais, torrava no forno do fogão, moía com uma garrafa de vidro e guardava em saquinhos. Então, aos finais de semana, nos bailinhos, disfarçadamente a gente jogava nas pernas das meninas. Era uma festa rir delas, se coçando o tempo todo. Veja se tem cabimento? É um crime destruir a natureza apenas por maldade.
Não, não, não! Continue remando no lado direito da canoa. Eu dou a direção daqui de trás. Você observou os redemoinhos formados pela pá do remo na água? É um constante surgir e desaparecer. Isso me lembrou do enorme e maravilhoso redemoinho que enxergamos do alto do "Tapete Mágico", lá no Beto Carrero. Até consegui bater uma fotografia de lá das alturas, apesar da adrenalina.
Tem um povo sentado em círculo nas dunas. Deve ser aquele pessoal da igreja que está fazendo um retiro nesse lugar. Na rua do mercadinho tem uma casa com várias barracas no pátio. Ontem à noite eu os vi orando ao redor da mesa de jantar. Os evangélicos costumam organizar retiros espirituais em época de Carnaval.
A vizinhança adorou o trapiche. A rapaziada vive saltando. É uma gritaria geral. Ainda não fui me aventurar com eles, mas não vai demorar. Os bombeiros mudaram de idéia: disseram que iam tira o trapiche por questão de segurança e o assunto morreu!
Hoje bem cedo, os pescadores estavam frustrados. Pouco peixe caiu na rede. Descobri porque construíram aquela casinha sobre as dunas. Toda noite um deles fica lá do outro lado do rio vigiando. A casinha serve como proteção caso se forme uma tempestade repentina ou chova forte, não é pra dormir.
Eu não gostaria de sair desse paraíso. Observe que impressionante: o canal, o pântano, o Rio Araranguá, a faixa de areia e o mar. Tudo é perfeito! Há uma sintonia que faz bem à alma. Esse silêncio apaga os problemas cotidianos.
Olhe para o Morro dos Conventos. Quem está lá, vê o quando isso aqui é bonito. Porém, quem está aqui sente o quanto isso é lindo!
Vamos mergulhar nessas águas de Ilhas antes que anoiteça ou o tempo acabe?

segunda-feira, maio 21, 2012

SKYWALKER: CAMINHANTE DOS CÉUS

Os alunos foram avisados de que naquela terça-feira não haveria aula porque os professores participariam de uma reunião pedagógica. Eles gostaram do aviso porque poderiam dormir até mais tarde e assistir o desenho animado do Bob Esponja Calça-Quadrada. Poucos aproveitaram a folga para estudar mais um conteúdo que acham difícil, ler um livro, fazer as tarefas ou mesmo ajudar nos afazeres domésticos.
Enquanto isso, os professores desligaram o piloto-automático e assistiram a um filme que objetivava reanimar o trabalho docente. Certamente, aquele filme – Escola da Vida – não era dos melhores pra refletir sobre questões educacionais devido aos momentos que fogem da realidade. Afinal de contas, que escola tem estrutura pra dramatizar uma história acendendo uma fogueira dentro da própria sala de aula? Que professor ganha tão bem que pode adquirir roupas épicas a fim de trazer o passado mais próximo da realidade? Que condições existem para que se possa planejar uma aula de Ciências exibindo um pulmão em perfeito estado de conservação? Como pode o novo agradar tanto se não apresenta as marcas da experiência? Como pode o velho ser tão ruim diante das mudanças da modernidade? O bonito encanta e o feio é um tolo? O renovador é maravilhoso e o tradicional é uma tragédia? É certo ensinar a perder com alegria? É correto competir às custas da exclusão dos mais fracos? Enfim, nem um filme é perfeito! Assim, como nenhum profissional está plenamente formado.
Embora as interpretações e as partes que mais tocaram aqueles profissionais não sejam as mesmas, houve um discurso – de um jovem professor - que prendeu a atenção de todos: “Estudar é coisa pra heróis. Ir para casa é como encarar uma “Guerra nas Estrelas”. Vocês são como o Luke Skywalker ou Lucy Skywalker, conforme o caso. E a escola é onde recebemos o treinamento Jedi. Afinal, precisamos nos preparar para enfrentar o Império do Mal. Mas, o Império do mal não é a escola, não são nossos pais, nem a salsicha de gosto duvidoso da lanchonete. Não! O Império do Mal é uma crença. É crer que temos limitações. Não temos. Talvez não saibam, mas todos vocês são suspeitos. Normam Warner (refere-se a um antigo professor)  foi meu mestre Jedi. O grande ensinamento que ele me passou foi como aprender sozinho; ser meu próprio mestre. Quero que aprendam que não devem se preocupar com o que vocês farão. Isso não importa. Preocupem-se com o que vocês serão. Assim, nenhum bundão vai impedir que vocês realizem seus sonhos. Este é o seu sabre de luz (fala mostrando um simples lápis). Toque numa simples folha de papel com fé, emoção e coragem e juntos faremos desse mundo um lugar melhor e me levem nessa jornada com vocês.
As reações foram diversas. Alguns relembraram a história de Guerra nas Estrelas, outros frisaram o descrédito do ser humano no seu potencial evolutivo, admiraram a importância do lápis como instrumento de poder educativo e até retomaram momentaneamente seus sonhos de participar da construção de um mundo melhor.
Entretanto, um educador resolveu tecer apenas um comentário estranho: “Vejo em Skywalker as palavras céu e caminhante.  Sky, céu! Walker, caminhante! É tão fácil criar personagens marcantes. É tão difícil ser uma pessoa importante para a humanidade.Fazer filmes é mais simples do que construir a realidade! Antes que eu vire as costas estarão dizendo que estou fora de órbita. Mas, quem  é que pode ter certeza de estar no caminho certo. Talvez as borboletas e as baleias que não pensam, seguem a natureza!”
A maioria saiu convencida, mesmo inconscientemente, de que precisava ampliar o conceito do que é um lápis...

sexta-feira, maio 11, 2012

MÃO DE MÃE



Que mão é essa,
que faz aviãozinho com a colher?
que segura o tapa merecido?
que convence o incrédulo?
que aplaude qualquer sucesso?

Que mão é essa,
que prende a teimosia no quarto?
que passa pomada nas feridas?
que não pode mais tocar no Ser criado em seu ventre?
que nervosa disca incontáveis vezes o mesmo número ?

Que mão é essa,
que leva a toalha de banho?
que fecha a porta com cuidado?
que ajuda a escrever uma história sublime?
que seca as lágrimas da decepção?

Que mão é essa,
que prepara o chá com hortelã?
que risca as palavras mais cruéis?
que vasculha os objetos alheios?
que compreende os tropeços inaceitáveis?

Que mão é essa,
que trança o cabelo perfumado?
que acha belo seu reflexo?
que espanta os medos da vida?
que resolve os problemas dos outros?

Que mãe é essa,
que faz tudo o que está ao alcance das suas mãos?

sábado, maio 05, 2012

QUERES SER UNIVERSAL, COMEÇA POR PINTAR TUA ALDEIA!

A Revista Carta na Escola, na edição de abril de 2012, publicou uma matéria chamada “Geometria no computador”. Um trabalho desenvolvido com alunos da E.E.F. Demétrio Bettiol está em destaque. Aproveitamos o momento para tornar público essa experiência educacional. Para saber mais e assistir ao vídeo, clique na imagem.

Participei da 1ª Conferência Latino-Americana de Geogebra realizada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Esse evento ocorreu nos dias 13, 14 e 15 de novembro de 2011.
O que é o Geogebra? O próprio nome o apresenta, pois é a junção das palavras geometria e álgebra. É um software gratuito de matemática dinâmica que está conquistando os professores de matemática do mundo! Já foi traduzido para 58 idiomas, fundou 85 institutos e é conhecido em 190 países.
O segredo de tanto sucesso pode ser explicado pela frase escolhida para a abertura da apresentação de Zsolt Lavicza, responsável pelo suporte aos institutos criados para divulgar os projetos do software Geogebra. Em sua palestra ele repetiu um provérbio africano: “Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado." Muita gente contribui com esse projeto que começou em 2001, como tese de mestrado do austríaco Markus Hohenwarter. Alguns colaboram com seus conhecimentos matemáticos, outros com sua capacidade para traduzir línguas, outros usando seus saberes sobre programação de computadores, outros organizando formação continuada para ensinar os professores. Enfim, é uma comunidade que aumenta diariamente. Quem gosta de matemática, quem ama a Educação, quem acredita que é possível qualificar o ensino da disciplina mais criticada pelos péssimos resultados apresentados, está participando para ajudar e receber apoio.
Quando eu soube que durante o feriadão haveria um grupo de aproximadamente duzentas pessoas apresentando suas pesquisas, trocando experiências e discutindo as perspectivas para o uso do software Geogebra, enviei uma mensagem eletrônica parabenizando os coordenadores pela iniciativa. Despretensiosamente, anexei o trabalho que faço na E.M.E.F. Padre José Francisco Bertero em Criciúma e na E.E.F. Demétrio Bettiol, de Cocal do Sul. Fui surpreendida com o convite da Dra. Celina Abar, responsável pelo Instituto Geogebra de São Paulo, para que eu fosse apresentar meu trabalho. Minha primeira reação foi agradecer e dizer que no momento eu não tinha condições. Depois lembrei de uma frase de Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia!” Então, pensei: “Posso estar jogando fora a oportunidade que tenho de contar sobre as coisas boas que acontecem na minha terra.”
Fui a última conferencista a apresentar minha experiência, cujo título era “O Uso do software Geogebra no Ensino Fundamental II”. Iniciei dizendo que descobri que sabia muito de espanhol e pouco de Geogebra. Entendi quase tudo o que as pessoas que vieram da Espanha, da Costa Rica, da Argentina, do Uruguai e do Chile falaram e compreendi muito pouco sobre as pesquisas desenvolvidas usando o Geogebra. Fiquei pensando nas coisas “malucas” que aqueles professores pesquisadores estavam desenvolvendo em suas escolas e universidades. Perguntei-me se a “maluca” não seria eu, em querer que meus alunos do 6º ano conheçam as ferramentas do programa. Também pode ser que eu esteja dando o primeiro passo para que minhas crianças entendam, no futuro, o que é que o Geogebra tem a ver com palmito, semente de girassol e as asas da libélula.
 Quando senti que minha missão estava cumprida, chorei! Era um choro silencioso e gratificante. Foi maravilhoso saber que as atividades que desenvolvo com meus alunos servem como referência para os cursos de formação continuada desenvolvidos pela Faculdade de Tecnologias – FATEC – de Ourinhos, em São Paulo.  Jamais imaginei que um dia estaria contando com a ajuda do assessor de matemática da Costa Rica na tradução das minhas palavras para que um dos professores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, entendesse o que acontece nas nossas escolas.
Não quero que pensem que por isso tudo faço um trabalho incrível. Tenho certeza de que meu trabalho requer muita melhoria. Começo a encontrar pessoas dispostas a trocar experiências, a fazer críticas e sugestões. O trabalho do professor não pode ser solitário. Trabalhar em equipe é o grande desafio dos educadores. Reconheço que as condições reais para isso não existem em nossas instituições de ensino, mas quem sabe a gente encontre uma solução razoável.
       Agradeço às pessoas que me deram apoio para cantar as coisas da minha aldeia! Há pessoas que sem saber contribuem para que a comunidade Geogebra cresça, se una, se fortaleça e descubra caminhos para resolver os problemas da Educação Matemática. Precisamos de ação e não de discursos. E agir não é tão fácil quanto discursar.