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segunda-feira, dezembro 18, 2006

173. Viver é para profissional


Jornal de Cocal: 27 de dezembro de 2006
O título de um livro exposto na vitrine de um sebo mostrava-se interessante: “Viver é para profissional”.
Para compreender a amplitude dessa afirmação faz-se necessário explorar o significado de viver. Apesar dessa palavra ser usual, procuramos ajuda num dicionário para refletir sobre o significado que ela abrange; encontramos quase meia página.
Viver é existir. As plantas e os animais vivem. Mas, nem tudo que existe tem vida. Óbvio? Talvez!
Viver é ter vida. Mais meia página explicando o que é vida: “Vida é a união da alma com o corpo. Vida é o espaço de tempo compreendido entre o nascimento e a morte. Vida é a maneira de viver no tocante à fortuna ou desgraça de uma pessoa ou às comodidades ou incomodidades com que vive. Vida é ocupação, emprego, profissão. Vida é o princípio de existência de força; condições de bem-estar, vigor, energia, progresso.” Viver é muita coisa!
Viver é freqüentar a sociedade. Estar presente em festas é pouco. Precisamos acompanhar as mudanças, saber lidar com os perigos escondidos no meio da multidão, conhecê-la via jornais, manter contatos importantes, buscar meios de colaborar com o mundo!
Há quem prefira viver ao seu modo, de acordo com a sua razão ou gosto, sem se guiar pelo exemplo alheio nem se importar com a opinião dos outros. Pode parecer fácil e autêntico, porém, o bom profissional jamais deixa de ouvir e seguir bons conselhos.
Na era da comunicação há quem deseje viver a sós consigo, não comunicam seus pensamentos. É um provável fracassado? Não parece ser coerente optar pela auto-exclusão.
Uns vivem economizando, enquanto outros vivem como um rei. Ambos tem que ter competência para administrar seus recursos. É claro que há pessoas economizando porque têm uma renda baixa e outras que o fazem por serem sovinas. Também, conhecemos pessoas ricas que usufruem a fortuna herdada ou conquistada com o fruto do seu talento, enquanto alguns “fingem ter e ser” além de seus limites.
Não é fácil viver da graça de Deus, tendo muito pouco para sustentar a si e a própria família. Ninguém deveria viver na desgraça, na miséria. As injustiças sociais exigem profissionais bons que lutem contra sua força porque não é possível viver de ar.
Apesar de existir pessoas querendo viver à sombra de alguém ou sobre um leito de rosas - entre prazeres, feliz, ocioso, na moleza - a maioria deseja viver de suas mãos, sustentando-se com o produto do seu trabalho.
Os seres humanos que vivem debaixo do mesmo teto – que pode ser da casa onde moram, da escola, da fábrica, da igreja, do estádio municipal, do ônibus - precisam viver em harmonia, em paz e amizade. Para viver bem é fundamental levar a vida de acordo com a moral e com profissionalismo!
Desejo profundamente que o ano vindouro nos torne profissionais na arte de viver!

172. Nascendo e renascendo



Jornal de Cocal: dia 20 de novembro de 2006
O Natal ainda representa o nascimento do filho de Deus e o renascimento dos Homens.
A energia do bem existe! Essa força amorosa busca uma fresta em nosso coração nessa época. Sentimos o brilho advindo das luzes coloridas penduradas em janelas, bancos de praça, árvores, postes e vitrines. Pensamos em agradar as pessoas que amamos com um presente. Viajamos porque desejamos abraçar familiares que moram distante. Programamos uma ceia de Natal. Queremos confraternizar com pessoas importantes em nossa vida. Não é só comércio...
De repente, nos encontramos num evento organizado pra fazer a abertura do Natal, onde têm Papai Noel, fogos de artifício, corais e show com artistas famosos. Não importa se foi a prefeitura da cidade ou os lojistas que organizaram esse evento. Importa que estamos lá, emocionados com as recordações que as canções natalinas desencadeiam, mostrando o “bom velhinho” ao nosso filho, deslumbrados com a magia dos fogos de artifício e cercados por uma multidão falante, sorridente e sonhadora. Nesses momentos a tristeza não tem tantos poderes...
Depois de andar por diversas ruas, de mãos dadas, olhando vitrines e tecendo comentários sobre a decoração, tiramos um tempinho pra descansar. Sempre sobra um momento de silêncio pra gente espiar as estrelas visualizando a caminhada feita dentro e fora de casa. Há uma sensação de que a missão não foi plenamente cumprida. Então, lembramos que a ela não chegou ao fim, estamos apenas encerrando mais uma das suas etapas. E o Natal, nos traz a oportunidade de renascer...
Nosso nascimento não dependeu de nossa escolha. Mas, o nosso renascimento depende de nós. Talvez, precisemos contar com a ajuda de amigos, livros, colegas de trabalho, médicos, companheiros de festas e de familiares para executar o parto que originará uma nova vida. No entanto, a fecundação está em nossas mãos!
É provável, que não tenhamos certeza de que vale a pena renascer num mundo cruel, preconceituoso, destruidor, egoísta, corrupto e intolerante. Porém, não podemos esquecer da importância de cada ato nosso na formação desse mundo! Somos nós que tornamos o mundo humano mais medíocre, injusto e estressante? Nossa consciência nos alerta do compromisso que naturalmente recebemos junto com nossa concepção.
É possível que nossa inteligência nos mostre que há compromissos ecológicos, projetos de inclusão social, motoristas responsáveis, pais presentes, profissionais sérios e uma imensidão de pessoas merecedoras “de entrar no reino dos céus”. Então, temos bons exemplos pra seguir...
Renascer é lavar a alma e seguir o coração. Renascer é voltar a ser a criança que nunca abandonamos completamente. Renascer é aceitar a condição humana.
Renasce sempre quem é gente de verdade!

terça-feira, dezembro 12, 2006

171. Cequiço

Jornal de Cocal: 13 de dezembro de 2006

Cequiço? O que é isso? Não me recordo de ter ouvido essa palavra algum dia. Sou devoradora de livros e revistas, e mesmo assim, jamais meus olhos a encontraram em algum lugar. Neologismo? Não, provavelmente não! Acho melhor perguntar a quem a escreveu.

Enquanto você tenta descobrir o significado de cequiço, vou lhe explicar o que aconteceu. Alguns anos atrás, uma professora de Biologia deparou-se com essa palavra enquanto corrigia a prova de um aluno do Ensino Médio. Ela buscou detectar erros ortográficos para compreender o que estava escrito, mas não conseguiu associar com nada coerente. Recordei-me desse fato enquanto eu colaborava com uma colega de trabalho, fiscalizando o teste de Língua Portuguesa, numa turma de oitava série.

Naquela manhã, para agilizar a passagem do tempo, resolvi ler o teste que estava sendo aplicado. Na última página, os alunos deveriam redigir um texto cujo título era: “Político é tudo igual?”. Pauta pra escrever sobre esse assunto, nos dias atuais, não falta. Por isso, fiquei indignada com um dos meninos que entregou a avaliação sem escrever uma única frase. Questionei-o e a resposta foi lamentável: “Não dá nada, professora!” Fique pensando: “Realmente, reclamamos tanto da falta de interesse, estudo e conhecimento por parte dos nossos educandos. No entanto, cedemos demais e tudo acaba em pizza.”

Comecei então, a ler os trabalhos dos alunos à medida que estes concluíam, e anotei algumas colocações interessantes. Destacarei os erros de português juntamente com as idéias que demonstram criticidade ou capacidade de reproduzir o que ouvem:

Político é uma pessoa que está no governo só para roubar. Político bom naum dura muito no cargo dos governados.”

Os corrupitos deixam uma imagem ruim do brasil. Seria bom que apagassem essa manxa que os corrupitos deicharam.

Pode ser que antes de ser políticos eles fossem uma pessoa boa, mas depois que conseguem, eles vêem outros ‘ganhando’ mais dinheiro ou alguém os convida para ‘lucrar’, eles acabam aceitando algum dia, daí ficam viciados. Daí, eles robam, robam, robam.”

Político é tudo igual porque eles prometem emprego, vasequitomia, remédios e inganam o povo. Eles roubam pelos empostos que almentam todos os dias, transferem dinheiro pra suas contas.”

Nestes pequenos retalhos dos textos produzidos, podemos nos questionar enquanto educadores: “Dá pra aprovar um aluno que passa quase dez anos na escola e ainda não escreve o nome do próprio país usando a inicial maiúscula? Não estaríamos manxando nosso diploma? Estamos inganando a quem? Naum somos mais capazes de vencer os recursos tecnológicos que excluem o livro?” Que fazemos, então? Buscamos consolo no que há de positivo. Nos convencemos de que as opiniões foram expressas, e estas, devem ser mais valorizadas que os erros gramaticais e ortográficos. E assim, o barco segue...

Porém, não saber escrever direito pode prejudicar a comunicação. Para saber o que é cequiço, a professora de Biologia teve que perguntar ao seu aluno. A resposta foi surpreendente: “Sexo! Eu escrevi sexo.” E ela, perplexa, não se controlou: “Meu Deus! Se você faz sexo tão mal quanto escreve, seu problema é grave.”

Sem querer pessimista e correndo o risco de ser mal interpretada, quero dizer que nesse momento, concordo com Frei Bruno, conceituado professor dos colégios “La Salle”: “A cada não formamos uma turma mais burra!” Onde vamos parar? Que soluções encontraremos para a Educação? Que 2007 nos ajude a encontrar um caminho melhor!

terça-feira, dezembro 05, 2006

170. Dá pra acreditar mais no potencial humano


Jornal de Cocal: 6 de dezembro de 2006

Um dia, inesperadamente, uma lembrança vem à tona. Ficamos surpresos com os fatos guardados no fundo do baú da nossa memória. Muitas vezes, nos perguntamos: “Por que estou lembrando daqueles vizinhos encrenqueiros? Daquela noite que um homem perdeu a dentadura e a procurava no escuro? Daquele fim de semana que nos perdemos no meio do mato procurando amora? Do pavor que eu sentia quando encontrava uma patrola na estrada? Do sapato vermelho que ganhei de minha madrinha? Do gatinho que matei com uma paulada no nariz? Como posso, depois de tantos anos, reviver esses acontecimentos com tanta nitidez?” As associações geradas em nosso cérebro parecem inexplicáveis. O poder dos seres racionais é fantástico.

Em outros momentos admiramos os recursos materiais, medicamentos, meios de transporte e de comunicação que nos cercam. Ficamos perplexos diante da qualidade das obras de arte, das músicas, dos filmes e da arquitetura. Sentimos um mistério nos envolvendo nas linhas da natureza reorganizadas por pessoas comuns. Então, não podemos negar que há muito conhecimento intensificando nossa existência terrena e mostrando a força contida na mente dos homens e das mulheres.

Acompanhar a evolução de um bebê nos faz refletir ainda mais sobre o potencial humano. A maioria dos familiares afirma que “aquela pequena criança” é extremamente inteligente, ou seja, assimila rapidamente as novidades que lhe são apresentadas. Eles ficam orgulhosos com o progresso visualizado diariamente e prevêem um futuro brilhante, principalmente na escola. Infelizmente, as expectativas não correspondem com a realidade. Por que será?

Em geral as crianças pequenas são consideradas espertas, instigantes, criativas, críticas e têm a credibilidade dos adultos em relação às suas capacidades. Mas, quando iniciam a “vida acadêmica”, os conceitos mudam, os rótulos surgem e os problemas de aprendizagem são diversificados.

O sucesso escolar, apesar de existir, é esquecido. Em compensação, o fracasso dos educandos domina os assuntos, os espaços dedicados às reflexões e inferniza os educadores, pais e alunos. Inferniza é um termo forte para explicar a situação vivenciada pela comunidade escolar diante dos objetivos não atingidos, porém, representa o conjunto dos sentimentos de cada segmento. Poucos, dos envolvidos nesse processo, são completamente indiferentes às avaliações negativas. Eles sabem que as conquistas e derrotas oriundas dos bancos escolares refletem na vida.

É complicado entender por que há tanto fracasso no meio de tanto poder intelectual. Não dá pra conceber que as crianças “emburreceram” enquanto aproximavam-se da adolescência e que os adultos perderam o prazer de aprender. Temos que acreditar no potencial humano. Somos capazes de ir além desse limite que, nós próprios, nos impomos.

Seria maravilhoso ver esse mundo como uma grande escola que nos convida a crescer integralmente. A felicidade que tanto almejamos pode ser encontrada na leitura, na resolução de um problema de matemática, na localização de um país, nas discussões sobre os fenômenos climáticos, nas conversas sobre os preconceitos sociais, nas pesquisas, etc. Podemos ser um aluno exemplar e feliz com os resultados que obtém!