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terça-feira, dezembro 12, 2006

171. Cequiço

Jornal de Cocal: 13 de dezembro de 2006

Cequiço? O que é isso? Não me recordo de ter ouvido essa palavra algum dia. Sou devoradora de livros e revistas, e mesmo assim, jamais meus olhos a encontraram em algum lugar. Neologismo? Não, provavelmente não! Acho melhor perguntar a quem a escreveu.

Enquanto você tenta descobrir o significado de cequiço, vou lhe explicar o que aconteceu. Alguns anos atrás, uma professora de Biologia deparou-se com essa palavra enquanto corrigia a prova de um aluno do Ensino Médio. Ela buscou detectar erros ortográficos para compreender o que estava escrito, mas não conseguiu associar com nada coerente. Recordei-me desse fato enquanto eu colaborava com uma colega de trabalho, fiscalizando o teste de Língua Portuguesa, numa turma de oitava série.

Naquela manhã, para agilizar a passagem do tempo, resolvi ler o teste que estava sendo aplicado. Na última página, os alunos deveriam redigir um texto cujo título era: “Político é tudo igual?”. Pauta pra escrever sobre esse assunto, nos dias atuais, não falta. Por isso, fiquei indignada com um dos meninos que entregou a avaliação sem escrever uma única frase. Questionei-o e a resposta foi lamentável: “Não dá nada, professora!” Fique pensando: “Realmente, reclamamos tanto da falta de interesse, estudo e conhecimento por parte dos nossos educandos. No entanto, cedemos demais e tudo acaba em pizza.”

Comecei então, a ler os trabalhos dos alunos à medida que estes concluíam, e anotei algumas colocações interessantes. Destacarei os erros de português juntamente com as idéias que demonstram criticidade ou capacidade de reproduzir o que ouvem:

Político é uma pessoa que está no governo só para roubar. Político bom naum dura muito no cargo dos governados.”

Os corrupitos deixam uma imagem ruim do brasil. Seria bom que apagassem essa manxa que os corrupitos deicharam.

Pode ser que antes de ser políticos eles fossem uma pessoa boa, mas depois que conseguem, eles vêem outros ‘ganhando’ mais dinheiro ou alguém os convida para ‘lucrar’, eles acabam aceitando algum dia, daí ficam viciados. Daí, eles robam, robam, robam.”

Político é tudo igual porque eles prometem emprego, vasequitomia, remédios e inganam o povo. Eles roubam pelos empostos que almentam todos os dias, transferem dinheiro pra suas contas.”

Nestes pequenos retalhos dos textos produzidos, podemos nos questionar enquanto educadores: “Dá pra aprovar um aluno que passa quase dez anos na escola e ainda não escreve o nome do próprio país usando a inicial maiúscula? Não estaríamos manxando nosso diploma? Estamos inganando a quem? Naum somos mais capazes de vencer os recursos tecnológicos que excluem o livro?” Que fazemos, então? Buscamos consolo no que há de positivo. Nos convencemos de que as opiniões foram expressas, e estas, devem ser mais valorizadas que os erros gramaticais e ortográficos. E assim, o barco segue...

Porém, não saber escrever direito pode prejudicar a comunicação. Para saber o que é cequiço, a professora de Biologia teve que perguntar ao seu aluno. A resposta foi surpreendente: “Sexo! Eu escrevi sexo.” E ela, perplexa, não se controlou: “Meu Deus! Se você faz sexo tão mal quanto escreve, seu problema é grave.”

Sem querer pessimista e correndo o risco de ser mal interpretada, quero dizer que nesse momento, concordo com Frei Bruno, conceituado professor dos colégios “La Salle”: “A cada não formamos uma turma mais burra!” Onde vamos parar? Que soluções encontraremos para a Educação? Que 2007 nos ajude a encontrar um caminho melhor!

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