Jornal de Cocal: 8 de setembro de 2004
Numa tarde de folga fui ao laboratório de informática da minha escola para escanear fotografias de meus alunos que iriam se formar no Ensino Médio. Eu pretendia montar uma bela apresentação para o dia da formatura deles, por isso, analisava cada foto atenciosamente e projetava os detalhes com cuidado. De repente, parei com o que estava fazendo para conversar com uma colega. Ela sabia que naquela época eu estava “abraçando o mundo com dois braços” e para dar conta de meus compromissos, vivia absorta em meus pensamentos.
Apesar de gostar de conversar com as pessoas, não costumo falar sem necessidade ou gastar tempo especulando sobre suas vidas, mesmo que delicadamente. Às vezes, chego ao extremo de evitar palavras que não acrescentam nada numa frase e me irrito com pessoas repetitivas. Mas, não sabia que já havia quem sem se referisse a mim, como: “Qual professora de matemática? Aquela que não fala?” Isso me fez refletir sobre o que os outros esperam de nós e a importância de estarmos nos lapidando todos os dias para corresponder a essas expectativas e fazer a diferença.
Numa manhã de sábado, um outro fato mexeu ainda mais comigo. Eu estava atravessando uma praça, no centro da cidade, quando “ouvi sem certeza”, um menino me perguntando: “Quer engraxar a bota, professora?”. Olhei para aquele garoto negro de cabelos amarelos e busquei sua identidade nos arquivos de minha memória escolar, enquanto respondia: “Não, obrigada.” Como não o reconheci, segui pensando se realmente era comigo que ele falava e tive a confirmação ao ouvir o que aquela criaturinha disse aos amigos: “Essa professora, não é que ela é chata, é que ela não fala com o cara.” Meu coração bateu mais forte, senti algo estranho e percebi que como adoro minha profissão, tenho que mudar, pois a missão de qualquer educadora vai além dos conteúdos da disciplina que ministra. Mesmo assim, não olhei para trás.
Um dia, antes de entrar numa padaria para comprar pão e leite, deixei uma moeda cair. Abaixei-me para procurá-la e vi o pé de alguém que apontava onde ela estava, dizendo: “Aqui, professora.” Olhei para o moço que sorriu pra mim e desapareceu na multidão. Acho que sei onde e quando eu o conheci. Acho, não tenho certeza... Ele deve se lembrar muito bem e talvez, tenha uma opinião ao meu respeito que eu deveria saber, mesmo que doesse no peito. Se eu tivesse me aproximado mais dele, poderia me lembrar até do seu nome.
O grande desafio que tenho, agora, é saber falar com as pessoas.
Numa tarde de folga fui ao laboratório de informática da minha escola para escanear fotografias de meus alunos que iriam se formar no Ensino Médio. Eu pretendia montar uma bela apresentação para o dia da formatura deles, por isso, analisava cada foto atenciosamente e projetava os detalhes com cuidado. De repente, parei com o que estava fazendo para conversar com uma colega. Ela sabia que naquela época eu estava “abraçando o mundo com dois braços” e para dar conta de meus compromissos, vivia absorta em meus pensamentos.
Apesar de gostar de conversar com as pessoas, não costumo falar sem necessidade ou gastar tempo especulando sobre suas vidas, mesmo que delicadamente. Às vezes, chego ao extremo de evitar palavras que não acrescentam nada numa frase e me irrito com pessoas repetitivas. Mas, não sabia que já havia quem sem se referisse a mim, como: “Qual professora de matemática? Aquela que não fala?” Isso me fez refletir sobre o que os outros esperam de nós e a importância de estarmos nos lapidando todos os dias para corresponder a essas expectativas e fazer a diferença.
Numa manhã de sábado, um outro fato mexeu ainda mais comigo. Eu estava atravessando uma praça, no centro da cidade, quando “ouvi sem certeza”, um menino me perguntando: “Quer engraxar a bota, professora?”. Olhei para aquele garoto negro de cabelos amarelos e busquei sua identidade nos arquivos de minha memória escolar, enquanto respondia: “Não, obrigada.” Como não o reconheci, segui pensando se realmente era comigo que ele falava e tive a confirmação ao ouvir o que aquela criaturinha disse aos amigos: “Essa professora, não é que ela é chata, é que ela não fala com o cara.” Meu coração bateu mais forte, senti algo estranho e percebi que como adoro minha profissão, tenho que mudar, pois a missão de qualquer educadora vai além dos conteúdos da disciplina que ministra. Mesmo assim, não olhei para trás.
Um dia, antes de entrar numa padaria para comprar pão e leite, deixei uma moeda cair. Abaixei-me para procurá-la e vi o pé de alguém que apontava onde ela estava, dizendo: “Aqui, professora.” Olhei para o moço que sorriu pra mim e desapareceu na multidão. Acho que sei onde e quando eu o conheci. Acho, não tenho certeza... Ele deve se lembrar muito bem e talvez, tenha uma opinião ao meu respeito que eu deveria saber, mesmo que doesse no peito. Se eu tivesse me aproximado mais dele, poderia me lembrar até do seu nome.
O grande desafio que tenho, agora, é saber falar com as pessoas.
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