Alguém me disse que era bom e por isso, assisti ao drama francês “Quando tudo começa”.
Gosto de filmes baseados em fatos reais ou que retratem a vida como ela foi, é ou será.
Sempre desejei saber como é o ensino em outros países do mundo por respirar educação e almejar melhorar a qualidade do ar que me mantém viva. A França, por ser um exemplo para o mundo no aspecto referente à leitura, parece ocultar algo especial. Não acredito que lêem muito mais do que nós, brasileiros, somente porque lá faz mais frio do que aqui.
A sinopse do filme me antecipava a oportunidade de conhecer a realidade de uma escola infantil pública, no interior da França, a uns quinze anos atrás. Talvez, não seja diferente da praticada nos dias de hoje! Nunca imaginei que encontraria tantas coisas em comum: desemprego, miséria, falta de assistência social, indiferença do governo e problemas domésticos enfrentados pelas crianças.
Acredito que muitos dos nossos diretores se identificariam com o diretor daquela escola, nas cenas em que: os professores reclamam dos baixos salários; comunicam-lhe que há uma torneira vazando; aparecem cobranças em relação a encaminhamentos de alunos com problemas cujas soluções dependem de outras instituições que demoram a dar retorno; os pais estão ausentes na educação dos filhos ou não aceitam sugestões para procurar ajuda profissional quando há uma suspeita de problemas de audição, fala e aprendizagem; as famílias pedem ajuda porque cortaram a luz elétrica ou estão passando fome; mostram crianças com marcas de violência causadas pelos próprios familiares; educadores que perderam o controle e agrediram as crianças fisicamente ou com palavras. Enfim, quem assume essa função sabe que terá um papel a desempenhar que nem sempre é compensado pela diferença salarial.
Para completar as semelhanças, particularmente com nossa região carbonífera, o diretor é filho de um mineiro que adoeceu por causa da poluição que atingiu seus pulmões durante o trabalho no subsolo das minas de carvão.
Ele teve também, uma infância sofrida em função dos maus-tratos do pai a quem certamente perdoou. Percebe-se isso em um dos poemas que escreveu: “Há coisas que não se arrancam. Estão na carne. Estão na terra. Está na terra um monte de pedrinhas postas uma a uma. São as mãos de nossos pais e avós. Toda paciência acumulada resistindo à chuva no horizonte. Juntando pequenas poças para guardar a luz da lua. Para ficar em pé, inventar montanha e escorregar de trenó. Acreditar que tocou as estrelas. Vão contar aos filhos, dizer que foi duro. Vão contar que eram os senhores, nossos pais. E que deles herdamos um monte de pedrinhas e junto a coragem de carregá-las.” Este é apenas um exemplo de fatores pessoais que formam também as pessoas que escolheram a missão de educar e que, podem falhar gravemente, se não souberem tirar proveito.
Eu não imaginava que nos países desenvolvidos ainda existisse a figura do temido inspetor escolar; aquele que chegava de surpresa, sentava num canto da sala, observava a didática do professor, registrava sua avaliação, elogiava aquilo que considerava bom e dizia quais aspectos deveriam ser melhorados. Hoje, temos coordenadores e orientadores educacionais que se não tiverem uma postura de igualdade, humildade e de liderança positiva, podem criar atritos e serem até desrespeitados pela classe docente. Afinal de contas, pregamos que é na troca de experiências e na reflexão constante que aprendemos.
No filme, os professores são aconselhados a não se envolverem nos problemas crônicos da sociedade, ou seja, não devem “incomodar o governo que está fazendo tudo o que pode”. No nosso cotidiano escolar, discutimos a importância de ampliarmos a visão de mundo, de buscarmos meios para resolver problemas da comunidade e acreditarmos que temos que formar cidadãos críticos, participativos e honestos. Não sei até que ponto esse discurso diferente tem sido positivo.
Vou finalizar com uma frase da mais antiga professora daquela escola francesa: “Há vinte anos atrás eu tinha 45 alunos e não tinha problemas; eles eram disciplinas, não chegavam atrasados, estavam sempre limpos. Hoje, tenho 30 e não dou conta! ” Esta tem sido uma das principais reclamações dos nossos colegas de Santos, de Concórdia, de Cascavel e até da França. Estamos vivendo um caos mundial e perdendo valores importantes. Quando será que tudo isso vai terminar?
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