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sábado, setembro 02, 2006

129. Escrever: um ato de prazer ou dor

Jornal de Cocal: 8 de fevereiro de 2006


Escrever para outras pessoas é um ato gerador de prazer ou sofrimento.
Os sentimentos prazerosos emanados correspondem às alegrias das conquistas que ansiosamente desejamos compartilhar: “Joana está grávida de uma menina. Mauro passou em Medicina numa Universidade Federal. Fizemos um churrasco na casa do meu primo reunindo muita gente. O médico acertou o medicamento de papai. Meu filho, casado recentemente, já está morando no apartamento que financiou. Ontem, Pedro começou a trabalhar com carteira assinada. Troquei meu 147 por um Astra. Estamos viajando para conhecer o litoral nordestino. Meu irmão atravessou a fronteira e já está guardando dólares. Lucas aprendeu a nadar em poucos dias. Temos um aluno premiado nas Olimpíadas de Matemática.”
Em compensação o sofrimento nos ronda nos momentos que precisamos falar de perdas e fracassos: “Faltou freio, a curva era sinuosa e havia um peral à frente: perdemos nossa mãe. A maninha teve que ser internada às pressas. Não temos dinheiro para a luz e a água, muito menos para o aluguel. Nossa loja está fechando as portas porque o movimento dos últimos meses se apresentou baixíssimo. Nosso casamento é um inferno. Ela nasceu com sérios problemas cardíacos. Caia na real, ele já namora outra garota.”
É prazeroso passar para o papel algo que consideramos interessante por repassar conhecimentos, servir como reflexão, levar às recordações que acalentam o espírito e talvez, até estimular positivamente os leitores no enfrentamento dos problemas cotidianos. Essa responsabilidade enorme nos assusta devido à pequenez de nossa existência e à falta de sabedoria. Começamos aqui a mesclar o prazer com a dor.
Djavan comentou em uma entrevista que sofre para compor novas canções porque, apesar de estar aprendendo todos os dias, parece que já disse tudo que podia para o seu público. Quem tem a coragem de expressar freqüentemente suas vivências, lembranças, idéias e opiniões, deve ter sentido certa empatia com as palavras desse artista: é difícil produzir evitando repetições e buscando inovar a cada obra. No entanto é um desafio que nos ajuda a purificar e enobrecer a alma.
Há situações em que nos expomos, além de nossa vontade, com o objetivo de sermos autênticos e realistas. Por outro lado, temos a oportunidade de desabafar e aprofundar a visão de mundo que construímos ao longo de nossa história de vida.
Algumas vezes, nos perguntamos: “Será que não é hora de parar? De repente, ficamos sabendo que alguém sentiu prazer ou sofreu lendo nossas colunas. Então, respondemos:“Não vamos parar, ainda temos algo de bom a oferecer, independente dos sentimentos despertados.”

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