Um dia, caminhando no centro de Criciúma,
encontrei um ex-colega que resolveu abandonar a carreira de professor de Artes
e ser missionário em Moçambique. Conversamos um pouco e minha curiosidade sobre
as experiências que ele e sua esposa estão vivendo foi aumentando. Então,
combinamos um momento pra que ele compartilhasse essas histórias com nossos
alunos do Bairro São Simão. Foi uma manhã inesquecível, nos emocionamos, cada
palavra foi ouvida com muita atenção, perguntas interessantes foram feitas e
refletimos sobre as diferenças culturais e econômicas, além da importância da
caridade e do amor ao semelhantes.
O missionário Otávio da Rosa contou sobre
suas experiências no país africano, apresentou curiosidades sobre o modo de
vida daquele povo e falou da importância de um trabalho que ajude na inclusão,
no desenvolvimento e na educação daquela população tão carente. Ele explicou: “Estamos aqui buscando recursos para
continuar nosso trabalho. Quando eu e minha esposa Eliane estivemos em
Moçambique pela primeira vez nos apaixonamos pelo que conhecemos. Sempre
desejamos realizar uma missão na África e hoje sinto que minha primeira casa é
lá, e Criciúma passou a ser minha segunda casa.” Ele contou que a
expectativa de vida da população é de 52 anos na capital, que 60% é analfabeta,
que o custo de vida é alto e que há falta de sonhos das pessoas está em segundo
plano porque o essencial é a sobrevivência.
O moçambicano Angelo Duarte Chipendo está
em Criciúma fazendo cursos profissionalizantes para posteriormente retornar ao
seu país e colaborar na implantação de programas sociais. Foi muito questionado
pelos alunos Pedro Backs Jovenal e Jean Vitor Cordeiro que queriam saber sobre
o valor da moeda local, se os homens também envelhecem tão rápido quanto as
mulheres, se há uma confederação de futebol, como é alimentação, qual foi o
momento mais difícil que ele vivenciou, entre tantas outras coisas. Angelo
respondeu: “O pior ano foi o ano de 1983
porque não tinha comida. Fazíamos fila para pegar farinha pra comer. Lá nós
comemos chima com caril que é algo parecido com a polenta: a chima é feita de
farinha de milho que é branca e caril é um molho.”
A aluna Larissa Casagrande foi
impressionada com relatos das crueldades da guerra civil: “O que mais me chamou a atenção foi o fato de que eles,
na guerra arrancavam as crianças de suas mães e a esmagavam em um pilão. A
situação precária da água e dos alimentos, os sofrimentos das mulheres e das
crianças é muito comum. A lição que eles me passaram foi que mesmo com todo o
sofrimento que as pessoas passam, elas valorizam o que tem e lutam com o pouco
que tem pra ser alguém na vida.”
A professora de Geografia, Andréia Araújo,
escreveu em sua página do Facebook: “A
palestra sobre Moçambique revelou fatos que provocaram um misto de emoções em
todos os ouvintes. Particularmente me senti um grão de areia em meio à
tempestade e impotente perante o sistema em que todos nós, independente da
nacionalidade, vivemos. É duro remar contra a maré! No entanto, feliz por saber
que existe ações que minimizam o sofrimento daquele povo. E por fim, repleta de
esperança que tudo pode melhorar, para nós, para eles e satisfeita com a
escolha que fiz pela nova profissão: ser professora e novamente remar contra a
maré...”
A professora de História, Lisiane
Potrikus Martinello, resumiu: “Grande dia, pois pude em alguns
momentos, refletir um pouco mais sobre a minha participação na sociedade.”
Eu, passei a tarde sentindo vontade de
jogar e comentei com meus alunos da EEF Demétrio Bettiol que questionaram o
motivo. Tentei explicar, mas, é quase impossível explicar o turbilhão de
imagens, de lembranças e de reflexões que se cruzam e geram essa espécie de
tristeza.
Augusto Cury alerta que os pais devem
contar para seus filhos as suas histórias, os seus momentos bons e o ruins. Se
o fizerem criarão vínculos amorosos, estabelecerão laços afetivos e esses diálogos
serão importantes para fortalecer a vida em família. Penso que a escola também
pode fazer isso: permitir que os alunos conheçam realidades que podem ajudar a
amadurecê-los e a descobrir sua missão nessa vida. Por isso, convidamos esses
missionários para realizarem palestras na EEF Demétrio Bettiol e EEF Cristo
Rei. Então, os pais que tem filhos nessas escolas, podem aguardam que em breve
eles vão chegar contando muito novidades. Se não fizerem isso, é melhor
analisar como está o diálogo dentro de suas casas!
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