Pesquisar este blog

domingo, agosto 27, 2006

112. Existo, logo insisto

Jornal de Cocal: 2005

Penso, logo existo. Penso, logo insisto. Existo, logo insisto.

“Penso, logo existo”, disse Descartes imortalizando três palavras que tentamos entender nos momentos que nos colocamos como seres racionais buscando compreender os mistérios da existência. A capacidade de pensar é apenas mais uma prova de que fazemos parte desse mundo, mas não é essencial. A árvore plantada num canteiro de praça, as nuvens esquecidas no céu, a tinta que escorre pela parede, as bombas nucleares, o copo plástico com insignificante vida útil e os tecidos de algodão, não pensam e no entanto, existem. E, passados os tempos, células que fizeram parte de nosso corpo estarão formando árvores, nuvens, tintas, bombas, copos e tecidos. A química prova que isso é verdade. E essa verdade nos assusta!

“Penso, logo insisto” foi um trocadilho escrito numa capa de revista que alguém recortou e colou em seu caderno de poemas. Esse alguém era mais um adolescente que tentava fazer valer suas opiniões, seus desejos, seus sonhos, sua maneira de perceber o mundo. Infelizmente, lutava mais com a insistência fundamentada na teimosia do que na argumentação. Felizmente, a maturidade lhe deu a certeza de que argumentar não muda nada, o que dá resultado é teimar com todas as forças que tiver dentro de si.

“Existo, logo insisto” não se deve a uma boca sábia conhecida em todas as universidades. Existe quem insiste em viver. Quem não segue essa regra já colocou uma corda no pescoço, um revólver na cabeça, gotas de veneno na água ou mergulhou fundo em águas salgadas. Quem se atirou, puxou o gatilho, tomou a água ou ficou no fundo do mar, não teve sequer a chance de se arrepender. Lamentavelmente, essas pessoas não existem mais porque desistiram.

Existir é acordar, tomar banho, comer, beber água, pentear os cabelos, assistir novelas, sonhar e dormir.

E o que é insistir? Lavar a louça sabendo que no dia seguinte a pia estará repleta novamente? Tirar o pó dos quadros todos os finais de semana? Pagar as contas todos os meses? Marcar nova consulta e tomar outros remédios? É trabalhar com amor, apesar das decepções? Insistir é ler livros de autores diversos visando novos horizontes intelectuais? Planejar a chegada de outro herdeiro? Votar no candidato que se confia desconfiando? Pegar o jornal na esperança de encontrar uma boa notícia? Seguir adiante sabendo que não somos eternos e que a qualquer momento seremos obrigados a parar de insistir?

Não dá para enfrentar os percalços da vida, sem insistir todos os dias.

Graças a Deus, nem sempre insistir é algo ruim, doloroso ou triste. Insistir traz felicidade, harmonia e vitórias.

Resumindo: “Insisto, logo existo.”

Nenhum comentário: