Jornal de Cocal: 1 de outubro de 2003
Os professores de Angela tinham opiniões diversas sobre seu comportamento, pois apesar de saber falar, ela se recusava a responder, inclusive à chamada: uns achavam que era conseqüência de algum trauma e outros a viam como uma criança cínica. A psicóloga que a atendia também não progredia em suas tentativas de fazê-la conversar e as consultas pareciam um monólogo.
Ninguém compreendia o motivo real pelo qual a menina se fechava em seu mundo, olhava por baixo, não sorria e nem conversava com os colegas da escola. Ela gostava de sentar na fileira das janelas e jamais deixou de fazer os exercícios. Tinha os cabelos compridos sempre presos e usava saias compridas, por questões religiosas. Durante o recreio permanecia em pé, em frente a sala de aula onde estudava, aguardando sozinha o sinal bater.
Durante o ano passado inteiro em que estudou nessa escola, em nenhum momento, um de seus professores teve a oportunidade de ouvir o som da voz de Angela. Era intrigante essa atitude, pois a mãe dizia que em casa a filha era tagarela e os amigos diziam que ela falava com quem desejasse quando quisesse. As gozações foram surgindo por ela ser “a muda que sabe falar”. Mesmo assim ninguém conseguiu irritá-la com provocações e apelidos. Ela sim, nos irritava com sua indiferença misteriosa.
Assim o tempo passou e Angela foi reprovada na quinta série...
Recomeçamos o ano letivo com a “muda” que continuava sem falar sequer a palavra presente. Não adiantava conversar calmamente para conquistá-la, nem xingá-la, ameaçar com notas baixas ou tentar se aproximar para criar um vínculo de afetividade; era tempo desperdiçado com frustrações que chegavam a enervar qualquer profissional preparado para lidar com a psicologia humana. Ao menos era esta a sensação que se teve até o final do primeiro semestre quando a menina decidiu que responderia presente quando fossem realizadas as chamadas.
As pessoas que a conheciam perceberam as mudanças positivas. Não demorou muito tempo e Angela já participava das atividades escolares, indo ao quadro e dando respostas breves. Muitos dos hábitos não sofreram alterações, mas havia uma luz iluminando suas ações que antes eram completamente despercebidas.
A turma dessa aluna era uma das piores que já se teve, pois era encrenqueiros, diziam palavrões, faltavam com freqüência, esqueciam os materiais básicos, não faziam tarefas, apresentavam dificuldades de aprendizagem, deixavam de entregar trabalhos e a desorganização era imensa. Um dia, tentando trabalhar o conteúdo previsto, mas impossibilitada pela falta dos livros que não colocaram na pasta, a professora de História pediu que os alunos sentassem em grupos de três. Enquanto se organizam um dos meninos reclamou que Angela não aceitava que ele sentasse ao seu lado. Ela, enfurecida, diz que “não aceita, pois todos tem que ser responsáveis com suas coisas e ter compromisso com seus deveres”.
Talvez, essa criança tenha levado muito a sério o ditado popular que diz que “Deus nos deu dois ouvidos e uma língua, portanto, devemos falar menos e ouvir mais.” Certamente ela deu uma lição para todos os que a cercam quando resolveu dizer a primeira frase completa.
Os professores de Angela tinham opiniões diversas sobre seu comportamento, pois apesar de saber falar, ela se recusava a responder, inclusive à chamada: uns achavam que era conseqüência de algum trauma e outros a viam como uma criança cínica. A psicóloga que a atendia também não progredia em suas tentativas de fazê-la conversar e as consultas pareciam um monólogo.
Ninguém compreendia o motivo real pelo qual a menina se fechava em seu mundo, olhava por baixo, não sorria e nem conversava com os colegas da escola. Ela gostava de sentar na fileira das janelas e jamais deixou de fazer os exercícios. Tinha os cabelos compridos sempre presos e usava saias compridas, por questões religiosas. Durante o recreio permanecia em pé, em frente a sala de aula onde estudava, aguardando sozinha o sinal bater.
Durante o ano passado inteiro em que estudou nessa escola, em nenhum momento, um de seus professores teve a oportunidade de ouvir o som da voz de Angela. Era intrigante essa atitude, pois a mãe dizia que em casa a filha era tagarela e os amigos diziam que ela falava com quem desejasse quando quisesse. As gozações foram surgindo por ela ser “a muda que sabe falar”. Mesmo assim ninguém conseguiu irritá-la com provocações e apelidos. Ela sim, nos irritava com sua indiferença misteriosa.
Assim o tempo passou e Angela foi reprovada na quinta série...
Recomeçamos o ano letivo com a “muda” que continuava sem falar sequer a palavra presente. Não adiantava conversar calmamente para conquistá-la, nem xingá-la, ameaçar com notas baixas ou tentar se aproximar para criar um vínculo de afetividade; era tempo desperdiçado com frustrações que chegavam a enervar qualquer profissional preparado para lidar com a psicologia humana. Ao menos era esta a sensação que se teve até o final do primeiro semestre quando a menina decidiu que responderia presente quando fossem realizadas as chamadas.
As pessoas que a conheciam perceberam as mudanças positivas. Não demorou muito tempo e Angela já participava das atividades escolares, indo ao quadro e dando respostas breves. Muitos dos hábitos não sofreram alterações, mas havia uma luz iluminando suas ações que antes eram completamente despercebidas.
A turma dessa aluna era uma das piores que já se teve, pois era encrenqueiros, diziam palavrões, faltavam com freqüência, esqueciam os materiais básicos, não faziam tarefas, apresentavam dificuldades de aprendizagem, deixavam de entregar trabalhos e a desorganização era imensa. Um dia, tentando trabalhar o conteúdo previsto, mas impossibilitada pela falta dos livros que não colocaram na pasta, a professora de História pediu que os alunos sentassem em grupos de três. Enquanto se organizam um dos meninos reclamou que Angela não aceitava que ele sentasse ao seu lado. Ela, enfurecida, diz que “não aceita, pois todos tem que ser responsáveis com suas coisas e ter compromisso com seus deveres”.
Talvez, essa criança tenha levado muito a sério o ditado popular que diz que “Deus nos deu dois ouvidos e uma língua, portanto, devemos falar menos e ouvir mais.” Certamente ela deu uma lição para todos os que a cercam quando resolveu dizer a primeira frase completa.
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