Todos os meus alunos da Telessala de Ensino Médio são maiores de idade, ou seja, já podem dirigir, votar, abrir crediário, ter conta corrente no banco de sua preferência, ir ao cinema para assistirem o filme que desejarem, comprar cigarro e álcool sem ferir a lei, freqüentar casas noturnas, viajar sem autorização dos pais, voltar depois das dez horas da noite para casa sem estar acompanhado por um responsável, entre tantas coisas, como, ficar sem estudar. Muitos já são casados, sustentam um lar, respondem pelos atos dos filhos, pagam empréstimos, são membros de partidos políticos, enfim, fazem planos e assumem compromissos que só cabem ao mundo dos adultos.
Muitas vezes, penso no quanto eu seria melhor se tivesse tido a experiência de vida ou o potencial intelectual de alguns deles. Apesar disso, tenho que ter uma postura de liderança e assumir minha função de orientadora de aprendizagem, que nem sempre é fácil pelas minhas limitações físicas, culturais, cognitivas e psicológicas. Todos sabem que lidar com o ser humano é uma tarefa árdua, afinal de contas, somos um deles e sabemos o quanto somos complicados conosco mesmos. Isso, sem falar, da maldade, ironia, desonestidade, desmotivação, ignorância, etc, que pode estar oculta dentro de nós ou do outro.
Tenho a certeza de que preciso me preparar dentro do possível para levar o projeto adiante, que apesar dos obstáculos encontrados por requerer um profissional polivalente, é maravilhoso. Trabalhar nesse sistema é fazer uma licenciatura curta em conhecimentos gerais e ampliar a visão de mundo de uma maneira prazerosa. Me sinto feliz e grata pela oportunidade fantástica de poder vivenciar a riqueza dessa experiência. Mas, hoje de manhã uma conversa ao telefone me deixou com um sentimento misto de indignação, raiva, frustração, incerteza, desesperança e até de indiferença. Tudo porque me prontifiquei de fazer uma cópia de um dos livros que estudamos para estudar, e como, eu já havia respondido todos os exercícios daquele que uso – sim, porque tenho que estudar muito para depois contribuir e conduzir com mais calma os conteúdos programados – resolvi emprestar um dos “meus orientadores”. Me questionaram sobre o meu livro e eu disse que já tinha as respostas. Então perguntaram sobre os livros que os meus alunos usam e eu disse que eles adquiriram livros usados que já traziam as respostas feitas pelos antigos donos. Me perguntaram se eu os mando apagar aquelas repostas e eu disse que sim. Me cobraram se eu olho se eles realmente fizeram isso, e aí, eu achei que era demais e resolvi fazer a cópia do meu livro! E xeróx de escrita a lápis não dá pra apagar... Mesmo assim, antes de encerrar o assunto, tive que ouvir: “Esta é a sua função.” Não acredito que esta seja a minha função, mas sei que este questionamento tem fundamento, pois a minha turma admite que dá problema quando eles ficam sozinhos, nos dias que tenho reunião.
Eu queria que todos entendessem que sou apenas uma parte desse corpo e que, me recuso a ser os olhos. Tenho certeza de que eles um dia estarão conhecendo a pessoa que os olhará com os olhos que merecem ser vistos.
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