A compreensão da palavra saudade e solidão se iniciou quando eu tinha sete anos, num dia que eu estava em casa com meu irmão, um ano mais novo. Esperávamos minha mãe voltar do hospital com o bebê que ela disse que ia comprar. Me lembro que eu ia até a janela do quarto de meus pais, olhava para a estrada e chorando gritava: “Eu quero a minha mãe. Mãe, não demora, volta pra casa. Eu não aguento mais! ” Depois me jogava na cama, soluçando, sentindo um aperto no coração, uma profunda saudade dela e com a impressão de que o tempo não passava. A noite veio e ela não chegou.
Na manhã seguinte, recebemos a visita da professora da comunidade que também era nossa vizinha. Ganhamos um pedaço de pão de forno com doce de moranga. Ela carinhosamente nos acalmou e limpou a casa. O jeito era esperar mais um pouco!
A alegria só retornou quando um táxi estacionou no terreiro. Não lembro dos detalhes, mas sei que aquela menina envolta em um cobertor cinza com algumas listras, representou muito em minha vida. Como toda filha mais velha, de agricultores, tive que ser um pouco mãe de todos os meus irmãos, e inclusive da Tânia. Tive que trocar suas fraldas, dar mamadeira, passar açúcar em seu bico, dar banho, ajudar nas tarefas escolares, entre tantas coisas que só nossa mãe lembra. Também fiz coisas que não devia como, cortar seus cabelos, furar a orelha, ameaçar prendê-la no banheiro e jogar água quente em seus pés quando me desobedecia.
A Tânia era uma menina doce, tranquila, tinha uns olhos expressivos e uma boquinha de boneca. Foi a única que teve cabelos compridos desde pequena. Eu queria que a madrinha dela fosse minha porque em dias especiais ela sempre ganhava um presente bonito. Não me lembro dela se metendo em problemas ou provocando brigas em casa com a mesma intensidade que eu fazia. Talvez seja por não lhe caber tantas responsabilidades.
Hoje, o que eu admiro em minha irmã é o carisma que lhe é inato, a facilidade que tem de perdoar e esquecer mágoas, a maneira alegre de conduzir a vida, a espontaneidade e a sensibilidade que tem diante dos problemas dos outros. Não que ela seja perfeita...
Nenhum comentário:
Postar um comentário