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domingo, agosto 27, 2006

60. Passe de mágica

Jornal de Cocal: 4 de agosto de 2004

Tem dias que a última coisa que queremos na vida é levantar da cama para ir trabalhar. Principalmente, se for uma segunda-feira que sucede um domingo de inverno onde nosso único programa foi assistir televisão e comer. Também aumenta o desânimo se a faxina da casa não foi feita direito, se a roupa lavada continua esperando ser passada, se o chefe atrasa o pagamento e as contas se acumulam, se alguns compromissos não foram cumpridos, se não ligamos para pessoas que amamos, etc. Enfim, começar uma semana sem ordem, é terrível.
A noite de domingo parece uma máquina de contagem regressiva do tempo e qualquer barulhinho na madrugada da segunda-feira é motivo para nos alertar de que está chegando a hora de levantar, tomar banho, escovar os dentes e os cabelos, tomar café, verificar se os documentos estão na bolsa, abrir a porta e sair para a rua rumo ao inevitável local de trabalho. O nosso incansável parceiro é o tão odiado relógio digital do despertador que cinicamente não pára de piscar, nos perturbando sem perdão.
Até os sonhos, normalmente leves, apelam para sensações de medo e ansiedade. Acordamos pensando que perdemos o horário, que levamos uma bronca de um superior, que cometemos um erro gravíssimo, que nos envolvemos em fofocas ou que descobriram nossas fraquezas inconfessáveis.
A vontade de fugir do compromisso que se aproxima é tanta que desejamos acordar com algum problema sério de saúde para poder justificar a falta, que por questões éticas pessoais, tem que ter uma boa razão. Nesses dias somos capazes de desejar que um vendaval destrua a cidade e nos impeça de sair de casa, mesmo que os prejuízos nos atinjam diretamente.
Mas, não há nada a fazer quando chega a derradeira hora de sair da cama, e que segundos depois não parece mais ser tão maligna. Quase todo o sufoco parece descer pelo ralo do banheiro. A dor no peito vai sumindo quando olhamos para nosso rosto no espelho e nos damos conta de que inventamos que as coisas seriam difíceis. É inacreditável que somos capazes de nos fazer tanto mau de graça!
Definitivamente, o dia começa, os fatos rolam, o prazer de estar ocupado se manifesta, novos projetos surgem e como seres racionais, cumprimos nossa missão sem preguiça e na maioria das vezes, com muito otimismo.
Somos capazes de nos libertar de sentimentos negativos, e num passe de mágica, dar brilho à vida.

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