Jornal de Cocal: 11 de agosto de 2004
Hoje, eu gostaria de escrever algo completamente inédito. Poderia ser uma carta, uma poesia, uma história ou até mesmo uma frase. Mas, apesar de ser única neste universo, não estou sendo capaz de produzir alguma coisa nova, exclusivamente minha.
Hoje, eu gostaria de escrever algo completamente inédito. Poderia ser uma carta, uma poesia, uma história ou até mesmo uma frase. Mas, apesar de ser única neste universo, não estou sendo capaz de produzir alguma coisa nova, exclusivamente minha.
Seria tão bom poder absorver, integralmente, as experiências de vida de homens e mulheres que trilharam caminhos que jamais conheceremos, simplesmente lendo ou ouvindo seus relatos! Se fosse fácil assim, rapidamente adquiriríamos uma respeitada sabedoria. Poderíamos, talvez, ser melhores para a humanidade procurando juntar as qualidades construídas pelo tempo em outras pessoas. Não é por nada que quem reclama da velhice, diz que apesar de tudo, não trocaria os conhecimentos recebidos dos anos que vivera, para ter de volta a juventude.
Temos visto na televisão muita rasgação de seda para alguns atletas, músicos e atores que conseguiram superar a pobreza, lutar pelos seus objetivos e se destacar. A mídia bate na mesma tecla: “Ele realmente é um exemplo de vida, de garra, de vontade de vencer fazendo arte e não entrando no mundo do crime que o cercava desde criança.” Acho que eles são merecedores das homenagens pelas qualidades pessoais que souberam aproveitar e aperfeiçoar, mas o que enoja é a insistente comparação feita entre a pobreza e o sucesso. Que bom se o mundo estivesse repleto de vivências altamente qualificadas, com poder de superar qualquer obstáculo! Seria fantástico levantar todos os dias com a certeza de que estaremos fazendo coisas importantes e bonitas. Eu não estaria perturbada em escrever algo diferente e encantador porque minha mente iluminaria minhas palavras.
Nesse momento, enquanto estou registrando meus pensamentos no computador da sala dos professores, a risada de uma professora do primário que está corrigindo algumas histórias dos seus alunos me desconcentrou e eu perguntei o motivo da graça, cogitando a possibilidade de que uma de suas crianças estivesse sendo original. Ela me disse: “Minha aluna escreveu que saiu para passear com seu cachorro e choveu. Preocupada com bichinho de estimação, rezou para Deus pedindo que ele não ficasse gripado. Veja só! Devia rezar para que ela não pegasse uma gripe!”
Sentei nessa cadeira pensando em encontrar uma experiência inédita para relatar e supondo que somente adultos aventureiros a teriam e de repente, ouço algo inédito que parte de uma criança. Ou, será que um dia, alguém já se ajoelhou e fez um pedido tão singelo, amoroso e diferente para Deus?
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