Jornal de Cocal: 2005
Eu sou um homem desgostoso da vida, sim. Carrego em meus ombros uma vivência dolorosa. Olha, se eu lhe contar minha história, você não vai acreditar. Já penei demais nessa vida. Passei muitas dificuldades. Enfrentei tantos problemas que nem sei como consegui chegar até aqui. Não posso dizer que passei fome, mas já comi o pão que o diabo amassou. Perdi a conta das vezes que chorei em silêncio, sentindo muitas dores e tive que agüentar porque não tinha dinheiro pra pagar uma consulta ou ir a uma farmácia.
Eu sou um homem desgostoso da vida, sim. Carrego em meus ombros uma vivência dolorosa. Olha, se eu lhe contar minha história, você não vai acreditar. Já penei demais nessa vida. Passei muitas dificuldades. Enfrentei tantos problemas que nem sei como consegui chegar até aqui. Não posso dizer que passei fome, mas já comi o pão que o diabo amassou. Perdi a conta das vezes que chorei em silêncio, sentindo muitas dores e tive que agüentar porque não tinha dinheiro pra pagar uma consulta ou ir a uma farmácia.
Minha mãe era uma santa! Nunca vi aquela mulher reclamar, mesmo quando tudo ia mal. Ela não ficava nas casas das comadres fazendo fofocas, maldizendo a vida alheia. Se soubesse que alguém necessitava de uma dúzia de ovos, escolhia os mais bonitos e sem demora ia levar. Ela morreu nos meus braços, pedindo que eu não xingasse mais a Deus, nos momentos que me sentisse furioso com a junta de bois que não me obedecia no trabalho da roça. Senti medo de ser castigado por causa dos palavrões que eu soltava quando estava com raiva e depois desta data tomei cuidado com minha língua. Meu coração se aperta e meus olhos derramam lágrimas, nas horas que sua imagem me vem à mente. Não dá pra explicar a grandeza dessa saudade.
Não gosto do feriado de Nossa Senhora Aparecida porque esse dia me faz lembrar de meu irmão que morreu intoxicado pela fumaça do motor que servia para bombear a água de um poço. Quase desmaiei quando vi retirarem o corpo daquele rapaz que se preparava para servir o exército.
Minha irmã mais nova tinha sérias crises de epilepsia. Diziam que assim que ela ficasse moça iria melhorar, porém, não deu tempo. Tinha gente que desconfiava que “era coisa feita”. Uns até afirmavam que era “coisa do diabo”. Coitada, um anjinho sem asas!
Meu pai não prestava. Minha vó materna não gosta de ouvir essa verdade, pois ajudou a arranjar o casamento da filha, pensando principalmente em ter um genro abastado, com uma boa herança. Sempre diz que é falta de respeito falar desse jeito do próprio pai e eu respondo que falta de respeito é o que ele teve por todos nós durante os anos em que viveu. Ele tinha coragem de tirar da nossa boca pra dar para as mulheres da “Asa Branca”. E, pior ainda, chegava em casa, de madrugada, fedendo cachaça e ameaçando matar nossa mãe com o facão que usava na bainha. Os vizinhos diziam que são, não tinha homem melhor. E daí? Sei perfeitamente da maldade que ele cuspia quando saia das bodegas nos finais de semana. Até hoje desconfio que ele é o culpado pela doença que acabou com minha querida mãe.
As pessoas, hoje em dia, não têm mais paciência para ouvir as lamentações das almas miseráveis que dormem deitadas na grama dessa praça, tendo as raízes das árvores como travesseiro e um litro de pinga como cobertor. É pra ver se acalmo essa amargura em meu peito, meu amigo vira-lata, que resolvi desabafar contigo. Esse seu olhar me traz alegria por demonstrar que realmente entende meus sentimentos. Obrigado por me ouvir. Quem sabe, se houver um amanhã para nós dois, a gente possa se conhecer melhor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário