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domingo, setembro 03, 2006

134. Alguns dias em Ilhas

Jornal de Cocal: 15 de março de 2006

Tá vendo aqueles passarinhos enfileirados no fio elétrico? Eles me fazem lembrar do quanto fui bandido! Acho que é pelo arrependimento das coisas que fiz com eles que hoje não suporto ver um desses bichinhos presos em gaiola. Já avisei o Batista: "Solte esse rouxinol antes que eu o faça."
Na minha infância, junto com meus amigos, eu ia para o mato com uma espingardinha de pressão ou um estilingue. E a gente matava só pra fazer "pó de mico" e jogar nas pernas das meninas! Era a maior diversão matar beija-flor e andorinha. Depois, nós os jogávamos num ninho de formigas para que elas deixassem só os ossos, que era o que nos interessava. Passados uns quinze dias, a gente buscava os restos mortais, torrava no forno do fogão, moía com um garrafa de vidro e guardava em saquinhos. Então, aos finais de semana, nos bailinhos, disfarçadamente a gente jogava nas pernas das meninas. Era uma festa rir delas, se coçando o tempo todo. Veja se tem cabimento? É uma maldade destruir a natureza intencionando fazer malvadeza.
Não, não, não! Continue remando no lado direito da canoa. Eu dou a direção daqui de trás. Você observou os redemoinhos formados pela pá do remo na água? É um constante surgir e desaparecer. Isso me lembrou do enorme e maravilhoso redemoinho que enxergamos do alto do "Tapete Mágico", lá no Beto Carrero. Até consegui bater uma fotografia de lá das alturas, apesar da adrenalina.
Tem um povo sentado em círculo nas dunas. Deve ser aquele pessoal da igreja que está fazendo um retiro nesse lugar. Na rua do mercadinho tem uma casa com várias barracas no pátio. Ontem à noite eu os vi orando ao redor da mesa de jantar. Os crentes costumam organizar retiros espirituais em época de Carnaval.
A vizinhança adorou o trapiche. A rapaziada vive saltando. É uma gritaria geral. Ainda não fui me aventurar com eles. Não vai demorar...
Hoje bem cedo, os pescadores estavam frustrados. Pouco peixe caiu na rede. Descobri porque construíram aquela casinha sobre as dunas. Toda noite um deles fica lá do outro lado do rio vigiando. A casinha serve como proteção caso se forme uma tempestade repentina ou chova forte, não é pra dormir.
Eu não gostaria de sair desse paraíso. Observe que impressionante: o canal, o pântano, o Rio Araranguá, a faixa de areia e o mar. Tudo é perfeito. Há uma sintonia que faz bem à alma. Esse silêncio apaga os problemas cotidianos.
Olhe para o Morro dos Conventos. Quem está lá, vê o quando isso aqui é bonito. Porém, quem está aqui sente o quanto isso é lindo!
Vamos mergulhar nessas águas de Ilhas antes que anoiteça ou o tempo acabe?

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