Pesquisar este blog

domingo, setembro 03, 2006

142. Não quero, mas preciso...

Jornal de Cocal: 10 de maio de 2006

Não quero facilitar a entrada dos raios de sol em meu quarto, abrindo a cortina. Posso optar por deixá-la fechada, porém, preciso sair dessa cama.

Não quero tomar banho antes de vestir o uniforme da loja. Posso apenas escovar os dentes, porém, preciso estar apresentável diante da clientela.

Não quero tomar café junto com minha família. Posso comer um pastel qualquer na padaria, porém, preciso descascar os abacaxis que conquistei.

Não quero entrar num ônibus lotado de cidadãos sem rumo certo. Posso ir a pé, porém, preciso andar pelo caminho da dignidade.

Não quero ter pressa, sempre, o tempo todo, a vida inteira. Posso diminuir o ritmo, mas, preciso chegar na hora marcada.

Não quero sorrir para pessoas mau-humoradas. Posso ser apenas educado, porém, preciso enfrentar as agruras humanas.

Não quero ser pessimista. Posso evitar assuntos desanimadores, porém, preciso ter fé e otimismo.

Não quero ser um péssimo pai. Posso decidir participar das brincadeiras dos meus filhos, porém, preciso ter coragem de assumir mais uma responsabilidade esquecida.

Não quero ser um mentiroso que abusa da credulidade. Posso ser verdadeiro, porém, preciso rever os princípios que herdei.

Não quero ser corrupto. Posso abraçar a honestidade, porém, preciso policiar meus atos para não imitar os medíocres.

Não quero mais votar nesses políticos. Posso anular meu voto, porém, preciso ter consciência de que minha omissão os agrada.

Não quero voltar a ser estudante. Posso continuar com tempo livre, porém, preciso buscar o aperfeiçoamento.

Não quero ver mais um capítulo da novela das oito. Posso assistir a um filme sobre a II Guerra Mundial, porém, preciso cuidar das dores do meu coração.

Não quero ler a Bíblia Sagrada. Posso rezar apenas o Pai-Nosso, porém, preciso relembrar “O Santo Anjo”.

Não quero dormir cedo. Posso navegar na Internet até altas horas, porém, preciso respeitar as limitações do meu corpo.

Não quero matar a sede que sinto tomando água. Posso beber cerveja, porém, preciso de lucidez.

Não quero dançar samba. Posso curtir Bee Gees, porém, preciso voltar a sonhar em fazer coisas capazes de enriquecer minha existência terrena.

Não quero ser triste. Posso escolher a alegria, porém, preciso encontrar meios para ser feliz.

Não quero – ou melhor, eu não queria - escrever essa crônica porque não estava bem. Eu poderia falhar uma vez, porém, não dormiria tranqüila.

Nenhum comentário: