Quase todos nós já tivemos a oportunidade de acompanhar a retirada de
minhocas da terra. Sabemos que basta procurar um terreno úmido e adubado -
preferencialmente próximo a um chiqueiro ou num canto da horta onde se acumulam
restos de comida - remover o solo com uma enxada e rapidamente veremos esses
animais anelídeos se retorcendo desesperadamente. Sem demora, estarão dentro de
um pote de margarina ou num vidro de café solúvel – vazios, é claro! -
aguardando o momento em que serão úteis - para o Homem, é óbvio! - chamando a
atenção de uma carpa. “Esses moluscos – como disse equivocadamente, certa
repórter de televisão, pois minhocas apesar de terem o corpo mole não
apresentam as mesmas características dos polvos – podem ser reproduzidos em
cativeiro e auxiliam na decomposição orgânica, acelerando o processo de
formação de húmus”.
Como todo ser vivo que existe na terra parece ter um semelhante no mar,
como o leão e o leão-marinho, o cavalo e o cavalo-marinho, o boi e o peixe-boi,
o cachorro e o peixe-cachorro, o rato e o cação-rato, o pepino e o
pepino-do-mar, não é diferente com as minhocas. Vi algumas pessoas caçando
minhocas do mar na praia do Cardoso, que aliás, seriam usadas como iscas. E
para pegá-las era necessária outra isca: fígado de cação. Essa espécie de
minhoca pode medir até dois metros de comprimento, porém, não se aproveita
muito mais que vinte centímetros do seu corpo, pois a parte da cauda é
extremamente sensível.
Como toda professora, também tenho dificuldades de me desvencilhar da
realidade presente em sala de aula. Até as minhocas desenterradas da areia
mexeram com as “minhocas da minha cabeça”. Fiquei pensando nas falas de Celso
Antunes e Rubem Alves sobre a importância de saber cativar e educar. Imaginei a
quantidade de iscas que procuramos todos os dias antes de irmos para as
pescarias que raramente são abundantes, frequentemente dão o suficiente pra
sobreviver ou resultam em grandes fracassos. É a nossa luta diária pela qual
passamos enfrentando tempestades, sentindo medo de não estar usando os
equipamentos corretos e de vez em quando, curtindo o nascer e o pôr do sol.
Os pescadores são diferentes de nós professores. Eles sabem qual é o
tipo de peixe que tem na área e escolhem a melhor isca; nós, temos que capturar
diversas espécies simultaneamente, desde aquelas que podem ser pegas com iscas
simples, como as feitas de farinha de milho, àquelas que são exigentes e só são
atraídas por camarão.
O dono de um dos restaurantes do Farol de Santa Marta contou que a
Capitânia dos Portos fez um teste com cento e oitenta pescadores da região e
descobriu que apenas dois sabem nadar. E, acrescentou: “Meu sogro morreu com
quase noventa anos, desde criança se criou no mar, viveu pescando e se caísse
na água, iria pro fundo na certa”. Os números são impressionantes. Pensei:
“Como pode uma coisa dessas! Não parece concebível que pescadores não saibam
nadar. Se fosse três, quatro, cinco...
mas, quase cem por cento deles! Apesar de viverem trabalhando sobre as ondas,
eles as conhecem tão bem que não correm risco de morrer.”
Talvez, essa seja uma prova de que é possível sobreviver sem os
conteúdos que a escola considera elementar para enfrentar os desafios do mundo.
Ou, quem sabe, é um exemplo do quanto os pescadores da educação são capazes de
fazer mesmo sem saber nadar direito e tendo algumas minhocas à mão.
Um comentário:
Uahu Ana, excelente texto.parabens. uma história com início, meio fim e uma reflexão. Gostei
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