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domingo, agosto 27, 2006

117. Tim, Claro que eu Vivo ligado!

Jornal de Cocal: 2005

Você lembra daquele tempo em que os meninos sonhavam em ter uma bola de futebol de borracha e as meninas queriam ganhar uma boneca que abria e fechava os olhos?

As esperanças de receber o presente tão desejado aumentavam sempre que uma data especial se aproximava. Enquanto, o brinquedo não chegava, o jeito era improvisar.

Os meninos faziam bolas usando meias velhas ou bexigas de porco. O campo era demarcado com um risco no chão e as traves delimitadas por chinelos havaianas. Jogavam descalços, nem sempre num gramado. Na alma de cada garoto se inseria o nome de um famoso jogador. Quem fazia o gol era o Zico e não o “Pedrinho”.

As meninas procuravam suas bonecas no milharal. Era possível escolher uma “filhinha morena, loira ou ruiva”, dependendo da fase em que estavam as espigas. Para enrolá-las, buscavam pedaços de pano rasgados dos velhos lençóis, que as mães guardavam nos bidês. Elas ainda não sabiam que “as roupinhas dos seus bebês” serviam como absorventes higiênicos. Aliás, sequer entendiam que precisavam engravidar para serem mamães, quanto mais, que um dia menstruariam regularmente. O fato é que prazerosamente cumpriam seus papéis dando mamadeira, ninando, trocando as fraldas, ensinando a falar, etc. Também, havia aquelas irresponsáveis que abandonavam seus filhotes no sobrado, preso entre os caibros e as telhas. Coitados, acabariam sendo atacados pelos ratos e esquecidos eternamente.

E, hoje? O que é que os meninos e as meninas sonham em ter? Dentre tantas coisas, podemos afirmar sem erro que a maioria deseja possuir um celular. Detalhe importante: eles querem um celular de verdade. Só os pré-escolares aceitam um “aparelho de mentira”.

Há poucos dias um grupo de crianças falava ao celular em plena sala de aula:

- Oi, onde tu tá?

- Percebi uma chamada sua em meu celular e estou dando retorno.

- Eu ia lhe mandar uma mensagem, mas preferi ligar. Tenho um assunto urgente pra tratar contigo. Posso passar na sua casa mais tarde?

A princípio pode parecer que isso é resultado de falta de disciplina. Na verdade, o que se via era a criatividade superando as dificuldades financeiras e dando asas à imaginação. Os celulares foram fabricados pelos proprietários usando folhas de caderno, cola e caneta colorida. Os modelos variavam desde os mais antigos – os famosos tijolões – até os sofisticados que batem fotos. Um mais interessante que o outro!

Houve uma época em que as crianças e os adolescentes avisavam: “Não esqueça minha Caloi!”. Hoje, quando os adultos insistem em afirmar o contrário, parece que eles estamparam em suas fisionomias: “Tim, é Claro que eu Vivo ligado!”.

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