Pesquisar este blog

domingo, agosto 27, 2006

121. Pais frágeis. Filhos fortes.

Jornal de Cocal: 2005

Já perceberam como tendemos a acreditar que nossos pais são imortais e que nossos filhos estão freqüentemente sujeitos à morte?

Quando um pai está fazendo um severo tratamento contra algum tipo câncer, os filhos acreditam que ele é invencível e vai superar tudo. Por isso, custam a acreditar que foram derrotados, ao receberem a notícia do falecimento. Somente, após jogarem um punhado de terra sobre o caixão é que percebem que é verdade que eles morrem. Não adianta querer ensinar essa lição; só a entenderá quem já perdeu um deles.

Quando um filho está com febre, os pais sentem o coração apertado, temeroso, desesperado. Não adianta alguém experiente lhes dizer que é normal, que logo vai passar. Só sentem tranqüilidade quando os vêem sorrindo novamente.

Muitos filhos esquecem da mãe idosa e doente que sobrevive graças às diversas caixas de remédios. Não ficam pensando que a qualquer momento podem receber um recado avisando que seu estado de saúde piorou gravemente. Nem imaginam o quando ela espera por um telefonema ou uma visita, principalmente nos dias mais dolorosos.

No entanto, esses mesmos pais, não dormem direito nas noites em que os filhos saem para curti-la. Perdem o sono levantando as piores hipóteses possíveis de coisas ruins que podem lhes acontecer. O medo toma conta da alma, se ao amanhecer, o seu “bebê” não está no quarto dormindo como um anjo. São desgastes emocionais praticamente infundados - que afligem principalmente as mães - porém, poucos conseguem relaxar sabendo que suas preocupações não têm o poder de evitar tragédias e que a probabilidade delas acontecerem é menor do que parece.

Os pais temem que seus filhos morram antes mesmo do nascimento. Durante a gestação, a mulher fica extremamente atenta aos movimentos da criança acolhida em seu ventre. Quando ela diz que o bebê deu muitos chutes na barriga, demonstra tranqüilidade porque têm a certeza de que está vivo. Porém, ao perceber que ele está demorando a movimentar-se, fica ansiosa, pois em seu íntimo teme a morte.

Ontem, enquanto eu escrevia essas palavras, muitos bebês nasceram e muitas pessoas morreram. Hoje, enquanto você descobre o que se passava em meus pensamentos, há bebês vindo a este mundo e pessoas saindo dele. Amanhã, quando esses bebês estiverem na terceira idade, eu e você, existiremos apenas na lembrança de quem está aprendendo a nos amar agora ou assim que for concebido. E não demorará a chegar o tempo em que seremos apenas um nome numa lápide, enquanto ela existir.

Acho que um dos segredos da felicidade está em compreender que, em certas fases da vida, nossos pais são mais frágeis e nossos filhos mais fortes. E, nós, somos um pouco de cada um.
Podemos surpreender enquanto vivermos e as pessoas que esperam por isso... não estão num cemitério.

Nenhum comentário: