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domingo, agosto 27, 2006

44. O prazer de aprender

Jornal de Cocal: abril de 2004

A pouco tempo passei um final de semana fazendo turismo rural num local próximo à serra geral catarinense. Durante o jantar, com deliciosos pratos típicos, o guia perguntou em que pontos do nosso corpo estão os dois maiores prazeres da vida e antes que déssemos uma resposta, ele mesmo respondeu que são “a boca e as mãos”. Alguém salientou que sentimos o sabor dos alimentos na língua e também a sensação maravilhosa de beijar, e ele complementou que é muito gostoso tocar e pegar as coisas usando as mãos.
Esse questionamento me fez lembrar uma das últimas aulas sobre educação matemática que tive no meu curso de especialização. Os diversos objetos que nos foram mostrados ressaltavam a importância de ensinar e aprender com alegria. Não é mais novidade que o aluno tem o direito de expressar suas opiniões e dúvidas e para isso precisa muito usar seu órgão de comunicação verbal: a língua. Isso vai além, pois temos buscado em nossa prática pedagógica estimular nosso educando a dizer o que percebe, pensa e sente. Mas, apesar de dedicarmos muito esforço nesse sentido, não conseguimos oportunizar devidamente, em sala de aula, o uso das mãos, pela carência de recursos didáticos concretos e pela formação livresca que recebemos durante anos. O uso das mãos fez o homem evoluir intelectualmente e se diferenciar dos diversos animais. A necessidade de “ver com as mãos” está presente em crianças e adultos. Essa característica da natureza humana dever ser observada com mais atenção por todos que almejam garantir qualidade na educação.
Dentre os objetos educativos que vimos o que mais causou surpresa foi o Teorema de Pitágoras demonstrado através do volume da água. Explicar esse teorema, que tem por base qualquer triângulo retângulo, usando papel quadriculado para comparar a soma da área dos quadrados com lados de mesma medida dos catetos, com a área do quadrado com o lado de mesma medida da hipotenusa, já era uma maneira interessante e eficaz para a compreensão desse conceito. Agora, complementar essa explicação usando o volume, é uma forma a mais de garantir a aprendizagem e momentos agradáveis que podem ser inesquecíveis. Se a abordagem desse conteúdo tivesse sido feita desse modo, provavelmente, não teríamos pessoas respondendo o seguinte: “Teorema de Pitágoras? Tem uma fórmula. Eu já estudei isso, mas não me lembro como que é.” Eu sei que compreender o que escrevi até aqui é complicado para qualquer ser humano que não tenha se aprofundado no assunto. Para mim é fácil porque eu vi, toquei e descobri como é construído, além de ter sido orientada por meu professor a observar aspectos que excedem o tradicional conjunto de três quadrados. Vi comparações em triângulos e outros exemplos de retângulos que ficarão eternamente gravados em minha memória.
Estudar é trabalhar para o bem de si próprio e da comunidade carente de pessoas capazes de provocar mudanças. Hoje, se fala muito que temos que sentir prazer em realizar o trabalho que garante nosso sustento, independente da profissão que exercemos. Portanto, o trabalho realizado na escola tem que ter essa essência da satisfação de estar produzindo algo útil. E certamente termos que aproveitar ao máximo nossa boca e nossas mãos.

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